quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Apostasia e Charlatanismo: A Marca dos Neo e Pseudos Evangélicos

Não pretendo ser exaustivo nem cirúrgico neste artigo, apenas taxativo quanto a verdadeira natureza daquilo que muitos hoje intitulam como evangélico, protestante ou reformado. 

Refiro-me aos chamados neo-evangélicos que por sua vez, são conhecidos pela sociedade como os principais "representantes" da igreja evangélica no Brasil. A saber, os famosos tele-evangelistas e suas mega-igrejas! Quero antes de qualquer coisa, deixar bem claro que NENHUM DESTES ME REPRESENTAM.


Qualquer um que conhece a história da verdadeira igreja de Cristo que começou nos tempos bíblicos em Jerusalém e perpassou 21 séculos ao derredor do planeta, sabe muito bem que esta forma de "cristianismo neopentecostal e outros semelhantes" é muito estranha e em nada se conforma com o modelo bíblico e histórico do cristianismo original. O cristianismo genuíno, bíblico e histórico possui como suas principais marcas a doutrina apostólica, a santidade pessoal, o martírio como selo da fé e a evangelização dos pecadores como chamado a uma vida de penitência. Assim foi, desde o tempo dos apóstolos e continuou com seus sucessores, começando pelos pais da igreja primitiva até os reformadores e grandes evangelistas e avivalistas do cristianismo mundial. Nomes como Paulo, Policarpo, Irineu, Cipriano, João Crisóstomo, Agostinho, Savonarola, Huss, Wycliffe, Tyndale, Lutero, Calvino, Owen, Edwards, Wesley, Moody, e centenas de outros, jamais serão sinônimos de pseudos "pregadores" como Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares, Valdemiro Santiago, Silas Malafaia, Estevam Fernandes e qualquer um outro desta laia que só pregam "curas e prosperidade material". Quem deseja ser realmente um cristão de verdade, precisa conhecer o cristianismo bíblico e histórico ao invés de se adaptar a qualquer proposta de pseudo-líderes que são descritos nas próprias Escrituras Sagradas como falsos profetas e charlatões da fé. O Novo Testamento está cheio de advertências contra os mesmos. A principal delas, saiu dos lábios do próprio Senhor Jesus que disse: "surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos - Mt 24:11". Besta quem se deixa seduzir pelas mensagens destes exploradores da fé alheia que a cada dia mais enriquecem a custa dos ingênuos espirituais. Quanto a mim, prefiro o evangelho descrito nas páginas da Bíblia dado por inspiração divina há mais de 5000 anos desde que o próprio Deus falou com Adão no Paraíso e Moisés no Monte Sinai! Evangelho este, que é inalterável em seu conteúdo e incalculável em sua verdadeira proposta e eficácia, que é a vida eterna e não uma vida de utopia temporal (Jo 3:16; Jd 3; Gl 1:8,9).

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa - AIECB).



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Verdades e Mentiras Sobre Inácio de Antioquia

A Bíblia diz que devemos dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22:21)! Infelizmente, poucos seguem este mandamento de Cristo, inclusive, muitos que se dizem "cristãos". 

Este artigo visa confirmar algumas verdades que foram ditas ao longo dos séculos sobre um dos maiores cristãos da história, bem como corrigir algumas mentiras que foram criadas em torno do mesmo. Estamos falando de Inácio de Antioquia, um dos primeiros e mais proeminentes sucessores dos apóstolos e pastores da igreja primitiva

Inácio viveu entre os anos 35 e 110 da era cristã. Fez elo entre as gerações do primeiro e segundo séculos do cristianismo. Segundo a Tradição, Inácio foi bispo de Antioquia da Síria, discípulo do apóstolo João, conheceu São Paulo e foi sucessor de São Pedro na igreja em Antioquia. Segundo Eusébio de Cesareia, Inácio foi o terceiro bispo de Antioquia e segundo Orígenes teria sido o segundo bispo da cidade. Santo Inácio foi detido pelas autoridades e transportado para Roma, onde foi condenado à morte no Coliseu, e foi martirizado por leões. Falta-nos espaço e tempo para descrevermos sua virtuosa e piedosa vida, bem como seus atos heróicos diante do martírio. Também, não temos como em um simples artigo transcrever seus escritos dirigidos as igrejas de Éfeso, Esmirna, Filadélfia, Magnésia, Trália, Roma e ao jovem bispo Policarpo. Todavia, como possuo estes documentos do tão aclamado Teóforo (portador de Deus) como era chamado, me acho na obrigação de fazer uso dos mesmos a fim de colocar os pontos nos is acerca do que o catolicismo em particular atribui ao dito cujo. Quem desejar conhecer a fonte de tais referências entre em contato comigo. 

Bem, de acordo com o catolicismo romano em especial, Inácio foi o primeiro a usar o termo católico e a declarar o primado da Sé Romana sobre as demais igrejas cristãs. Também afirmam que Inácio foi o primeiro a popularizar o dogma da virgindade perpétua de Maria e a doutrina da Transubstanciação bem como o dogma da intercessão dos santos dentre tantas outras coisas que são próprias do catolicismo como se conhece atualmente. Será mesmo? Como falei para um colega meu que é católico do pé roxo, "em terra de cego quem tem um olho só é rei"...graças a Deus que tenho os dois olhos e bem saudáveis por sinal. Então, permitam-me desfazer de forma sucinta estes maus entendidos acerca do verdadeiro sentido das palavras do saudoso e venerável bispo antioqueno:

1) Inácio declarou que a igreja primitiva era católica e já nasceu católica. Isso não é verdade! De fato, santo Inácio definiu a igreja como católica ao afirmar: "Onde está Cristo Jesus, ai está a Igreja Católica". Porém, em qual contexto ele fez tal afirmação? Inácio estava alertando aos cristãos esmirniotas acerca dos hereges docetistas que negavam a humanidade do Senhor Jesus. Tais hereges estavam convencendo alguns que por sua vez queriam deixar a igreja local e se reunirem a parte com os tais apóstatas. As palavras reais de Inácio foram: "segui todos ao bispo, como Jesus Cristo segue ao Pai, e ao presbitério como aos apóstolos, respeitai os diáconos como à lei de Deus. Sem o bispo, ninguém faça nada do que diz respeito a igreja. Considerai legítima a eucaristia realizada pelo bispo ou por alguém que foi encarregado por ele. Onde aparece o bispo, aí esteja a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a igreja católica". Ora, por todo o contexto agora, e não apenas pela frase isolada, percebemos do que se tratava. Inácio não estava fazendo apologia à uma igreja universal institucionalizada (o que só ocorreria a partir do 4º século em diante) e sim, estava falando de uma marca universal (católica) a qual era presente em todas as igrejas do mundo e neste sentido sim, católicas. Ou seja, Inácio estava alertando que nenhum cristão deveria abandonar a comunidade local com sua hierarquia composta de bispo, presbíteros e diáconos para seguir hereges docetistas isoladamente. Pois, Cristo prometeu estar onde estivessem os seus discípulos (Mt 18:8). A saber, os que tinham crido na sua ressurreição corporal (Jo 20:27). Logo, a catolicidade da igreja primitiva defendida por Inácio tem haver com a fé geral (universal=católica) das igrejas do seu tempo e não com o catolicismo pagão que surgiria alguns séculos mais a frente.
2) Inácio afirmou a primazia da Sé Romana sobre as demais igrejas. Também não é verdade! A igreja papista mais uma vez distorce o sentido das palavras do bispo que diz: "Roma preside a igreja na caridade". O que Inácio falou na verdade foi que a Igreja de Roma foi para com ele a mais caridosa dentre todas as outras que lhe saudaram no caminho ao martírio na capital do império romano. Acontece que, no caminho do martírio entre Antioquia e Roma, o bispo ao passar em várias cidades do trajeto onde se tinha igrejas locais, estas lhe enviavam representantes (geralmente bispos, presbíteros e diáconos) para consolá-lo e lhe dar alguma assistência. Tais encontros possibilitou Inácio escrever suas cartas a tais igrejas agradecendo a hospitalidade deles como também, encorajando-os a permanecerem juntos na fé cristã. Tanto na introdução da carta aos Romanos como no capítulo 9, Inácio ao mencionar a acolhida das igrejas, fez esta declaração sobre a igreja de Roma, que ela presidia as demais no amor para com ele. Presidir aqui é o mesmo que liderar, ou seja, os cristãos romanos foram mais amorosos para com o bispo do que as demais até mesmo porque o martírio seria na cidade de Roma. Inácio não se referiu em momento algum a chefia da igreja de Roma sobre as demais no sentido de política eclesiástica. Na verdade, em todas as sete cartas que enviou para as igrejas que o receberam com algemas, a única a qual Inácio não fez nenhuma referência ao seu bispo foi a igreja romana. Inácio elogiou todos os demais bispos e inclusive o jovem Policarpo, mas nada mencionou acerca do bispo romano. Se houvesse ali algum papa, por acaso não teria feito alguma honraria? o fato é que o bispo de Roma só começaria a ganhar certa proeminência no 4º século com Constantino e não antes.
3) Inácio afirmou a virgindade perpétua de Maria. Mais um equívoco! Eis as exatas palavras dele sobre a mãe do Messias na carta que escreveu aos efésios onde Maria e o apóstolo João foram acolhidos: "E permaneceram ocultos ao príncipe desse mundo a Virgindade de Maria e seu parto, bem como a morte do Senhor: três mistérios de clamor, realizados no silêncio de Deus". E também: "A verdade é que o nosso Deus Jesus Cristo, o Ungido, foi concebido de Maria segundo a economia divina; nasceu da estirpe de Daví, mas também do Espírito Santo". Ora, o que o bispo antioqueno estava dizendo a não ser, tratando da historicidade do Messias, cuja mãe o concebeu ainda virgem por milagre divino? Nada tem ai com o anúncio que Maria permaneceu virgem o resto de sua vida. E mesmo que Inácio tivesse feito tal declaração, o que isto teria demais? por acaso dizer que alguém morreu virgem é sinônimo de veneração ao ponto de se mandar fazer uma estátua e um altar para tal pessoa? Claro que não. Certamente que a pagã devoção Mariana não começou com Inácio (provavelmente teve início no 3º século), ele apenas declarou o que os evangelhos já diziam, nada mais!!! Ver de outro modo é "procurar agulha no palheiro".
4) Inácio garantiu que após sua morte estaria a interceder pelos cristãos vivos e assim validou o dogma da intercessão dos santos na igreja primitiva. Nada mais equivocado do que isso! Eis o que verdadeiramente disse o mártir Inácio em sua carta de despedida aos tralianos: "Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus. Eu ainda estou exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa. Que sejais encontrados nele sem reprovação". Como se pode ver no caso de um leitor ou ouvinte atento, Inácio aqui não diz que estaria intercedendo por ninguém após a morte, nem de intercessão ele fala! Na verdade, esta fala de Inácio aparece nas considerações finais, quando ele os exorta mais uma vez a unidade cristã diante das heresias e do martírio que na época eram constantes. É neste contexto que ele afirma estar se sacrificando pelos tralianos. Ou seja, Inácio deu exemplo máximo do que é ser um cristão tanto na vida como na morte. E após sua partida, seu exemplo heróico (sacrifício=negação de si mesmo=martírio) serviria de motivação para os demais desde que seguissem seus passos vivendo em unidade cristã e selando sua fé com sangue. Interessante que ao falar de oração, Inácio só menciona que o faria enquanto vivo, observem mais uma vez..."Eu ainda estou exposto ao perigo (martírio=sacrifício), mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa"...ou seja, Inácio ainda vivo orava para que os demais cristãos mantivessem a unidade e fé cristã diante de todos os desafios (internos e externos). E a única oração que pedia em favor de si mesmo era que Deus o fortalecesse a não negar e apostatar na hora do sacrifício de si mesmo em honra a Cristo. Nem sequer, pediu aos demais cristãos que orassem a Deus por seu livramento da morte. Isso, enquanto ainda estava vivo, em perigo! Logo, fazer de tal conversa comunitária e fraternal, uma base para um dogma onde se invoca defuntos (espiritismo) é ir muito além da pretensão do santo bispo. Poderíamos parafrasear adequadamente as palavras de Inácio mais ou menos da seguinte forma sem distorcer o real significado: "Sacrifico minha vida por Cristo e por vós, de forma que, após minha morte, quando eu chegar a Deus, servirei de encorajamento para vocês que ficam seguir meu exemplo de sacrifício. Eu ainda estou exposto ao perigo por um pouco de tempo só, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa e assim nos fortalecer diante de tal prova de fé de maneira que sejamos todos encontrados nele sem reprovação". Ver de outro modo é o mesmo que "procurar chifre em cabeça de cavalo".
5) Inácio deu testemunho da doutrina da Transubstanciação. Outro lapso de interpretação textual grotesca! Eis as autênticas e devidas palavras do ditoso bispo em sua carta aos romanos: “Não encontro mais prazer no alimento corruptível nem nos gozos desta vida, o que desejo é o pão de Deus, este pão que é a carne de Cristo e, por bebida, quero seu sangue, que é o amor incorruptível”. É exatamente aqui, onde o tiro dos papistas sai pela culatra, pois, essa afirmação nem de longe confirma a doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia como diz um famoso site católico (http://santo.cancaonova.com/santo/santo-inacio-de-antioquia-portador-de-deus/). Muito pelo contrário, só o desdiz! Como poderia Inácio estar falando de comer a carne de Cristo na Eucaristia se ele estava indo para o Coliseu? Isso mesmo amiguinhos, não era pra missa que o bispo antioqueno estava se dirigindo para beber o sangue de Jesus que seria transmutado após a epiclese. Na verdade, Inácio estava apenas parafraseando as palavras do evangelho de João no capítulo 6 (que também foram deturpadas pelos papistas) e que diz respeito a encarnar Cristo em sua própria vida, ou seja, ter um compromisso íntimo e pessoal com ele ao ponto de morrer. Pois, a chamada para viver o evangelho é se expor a seguir os passos de Cristo que foi o primeiro dos mártires cristãos. Inácio estava apenas dizendo que seguiria seu Mestre. Como ele mesmo afirmou, a vida presente já não lhe satisfazia mais, ele queria morrer neste mundo pra viver com Cristo no outro, vejam: "Não encontro mais prazer no alimento corruptível nem nos gozos desta vida, o que desejo é o pão de Deus...". Tanto é que, nesta mesma carta, encontramos a seguinte declaração: “Eu vos suplico, não mostreis comigo uma caridade inoportuna. Permiti-me ser pasto das feras, pelas quais me será possível alcançar Deus, sou trigo de Deus e quero ser moído pelos dentes dos leões, a fim de ser apresentado como pão puro a Cristo. Escutai, antes, as feras, para que se convertam em meu sepulcro e não deixem resto do meu corpo. Então serei verdadeiro discípulo de Cristo”. Como vemos, não encontramos nada aqui sobre a Santa Ceia e seu significado. Isso nem sequer se passou pela mente do mártir. Se Inácio podia ter Cristo realmente na Santa Ceia aqui na terra ao ponto de se alimentar de sua carne e sangue, porque tanto desespero de querer morrer para estar com Cristo no céu? Isso tem lógica? Evidentemente, que nenhuma. E o mais interessante é que Inácio "proibiu" os romanos de tentar libertá-lo do martírio para que uma vez liberto, pudesse comer a carne de Cristo na Santa ceia e beber seu sangue. Logo, não era na Eucaristia que Inácio queria estar realmente com Jesus e sim no céu através do martírio para se alimentar plenamente dele por toda a eternidade...no evangelho de João, o qual Santo Inácio conhecia bem, Jesus se intitula como o pão divino. Foi por esse pão (e não o da ceia) que Inácio deu sua vida.

Agora, deixando as mentiras sobre Inácio de lado, vamos concluir este artigo, nos concentrando sobre algumas verdades a seu respeito:
1) Inácio de Antioquia, foi bispo da cidade onde pela 1ª vez, os discípulos foram chamados de cristãos. Lembram? Veja o livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 11:26.
2) Inácio foi ardoroso defensor da unidade da igreja pós-apostólica. Antes de tudo, apelando para a unidade da igreja local (comunidade) e depois enfatizando a unidade geral como exemplo para cada igreja em particular, e daí o uso do termo católico por ele pela primeira vez na história, porém, no sentido de reflexo universal.
3) Inácio através de suas cartas nos delineou o quadro hierárquico das igrejas primitivas. Segundo ele, cada igreja ou comunidade local era regida por um bispo, vários presbíteros e diáconos. Modelo este oriundo do mandamento apostólico conforme se vê no NT e na maioria das igrejas reformadas. Muito diferente do modelo papista que é composto por um presbítero (sacerdote) e alguns diáconos, sendo a figura do bispo um supervisor de igrejas locais e não de uma igreja especificamente.
4) Inácio via a hierarquia eclesiástica de uma igreja local como fundamento básico e até principal para a ortodoxia e unidade de uma igreja (comunidade). Neste sentido não apelava nem para o Sola Scriptura como fazem os protestantes e nem para a Tradição como fazem os papistas (tampouco apelava para o papa=bispo de Roma que ainda não existia). Chegou a declarar aos magnésios:"procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apóstolos, para que prospere tudo o que fizeres na carne e no espírito, na fé e no amor, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, unidos ao vosso digníssimo bispo e à preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbíteros e diáconos segundo Deus". Vale lembrar que ele vivia num contexto de constantes heresias e perseguição e a doutrina apostólica deveria ser resguardada dentro das comunidades a todo custo por meio dos oficiais eclesiásticos.
5) Inácio não considerava sua autoridade espiritual ou a de qualquer outro bispo, igual ou superior a dos apóstolos. Antes se descrevia como um condenado e menor dentre os cristãos de Antioquia. Aos tralianos e romanos chegou a declarar que "não dava ordens como os apóstolos". O que faz cair por terra o conceito católico romano de que a Tradição é mais normativa em matéria de fé cristã do que os escritos apostólicos. Disse ele certa vez: "Pedro e Paulo eram apóstolos..."
6) Inácio cria que a verdadeira doutrina cristã provinha das Escrituras Judaicas (AT). Que por sua vez, era devidamente interpretada pelos apóstolos e conservadas pelos oficiais de cada igreja. Em sua carta aos filadelfienses escreveu: "...refugiando-me no evangelho como na carne de Jesus e nos apóstolos, como também no presbitério da igreja. Amemos os profetas, porque eles também anunciaram o Evangelho, esperaram nele e o aguardaram. Crendo nele, foram salvos...". Isso se harmoniza perfeitamente com o conceito hermenêutico da Reforma Protestante e vai diretamente de encontro com a interpretação cristã papista que atribui somente a Tradição a origem e desenvolvimento dos dogmas cristãos. O que para o judaísmo se constitui em atitude de uma seita.

Conclusão: Enfim, falta-nos o devido tempo e habilidade para dissecarmos a vida e os escritos desse santo e nobre líder cristão que figura e fulgura entre os chamados pais apostólicos. Porém, creio que este breve ensaio sobre o famoso bispo de Antioquia, será de grande utilidade para aqueles que buscam conhecer melhor a verdadeira história dos heróis da fé cristã primitiva. Até a próxima!

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Congregacional de João Pessoa - AIECB)

O Reformador João Calvino e a Intercessão dos Santos

Se existe algo que eu detesto e Deus muito mais, é a mentira! O Senhor Jesus certa vez chamou os judeus de filhos do diabo por amarem a mentira e fecharem os olhos para a verdade (Jo 8:44). 

Recentemente fiquei estupefato com uma mentira descarada que ouvi da parte de um colega meu que é católico de carteirinha, ao afirmar categoricamente que o reformador protestante João Calvino não só acreditava na intercessão dos santos, mas inclusive, a pedia. 

Tal mentira por sua vez, foi extraída de alguns sites de "apologia" católico como por exemplo: (http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/protestantismo/717-calvino-pedindo-a-intercessao-de-outro-reformador-ja-morto). O mesmo site informa que Calvino chegou a invocar publicamente a intercessão de Philip Melancthon que havia falecido a pouco tempo. Segue na íntegra a declaração de Calvino a qual os papistas fazem questão de afirmar que se trata de uma oração ao defunto Melancthon: "Ó, Philip Melancthon, pois eu apelo a ti, que estais agora vivendo no seio de Deus, onde tu esperas por nós até que nós estejamos reunidos contigo no Santo Descanso. Uma centena de vezes tu dissesse, fadigado com o trabalho, e oprimido com a tristeza, tu deitastes em meu peito como um irmão, ‘Que eu possa morrer neste peito!’ Desde então eu tenho milhares de vezes desejado que isso fosse nosso destino para estarmos juntos”. (Clear Explanation of the Holy Supper, in Reid’s Theological Treatises of John Calvin, S.C.M., London, p. 258;)". 

Seria isto mesmo, uma oração da parte de Calvino, pedindo a intercessão da parte do referido falecido? Bem, vamos aos fatos:

1) Em nenhum momento neste texto vemos Calvino pedir alguma coisa ao defunto. Concordam!? A frase "apelo a ti" não é um pedido e sim a expressão de um sentimento emotivo. Apela pelo quê? é preciso ler o texto de forma integral para realmente se certificar do que Calvino estava falando e não isolá-lo e distorcê-lo ao seu bel prazer. Pelo contexto da obra que trata sobre a exposição da doutrina da Santa Ceia, provavelmente Calvino estivesse fazendo um apelo poético ao falecido reformador cuja interpretação do tema era bem mais próxima do entendimento do reformador genebrino do que a compreensão que tinham Lutero e Zwinglio (e seus seguidores).

2) O conteúdo do texto trata-se de fato, de um lamento poético e não de uma invocação ao morto. Segue abaixo dois exemplos claros da situação. Um dos exemplos é uma famosa música de Tim Maia feita para homenagear alguém falecido que diz: "Não sei porque você se foi. Quantas saudades eu senti e de tristezas vou viver e aquele adeus não pude dar...Você marcou na minha vida, Viveu, morreu na minha história, Chegou a ter medo do futuro e da solidão Que em minha porta bate...E eu...Gostava tanto de você...Gostava tanto de você...Eu corro, fujo desta sombra em sonho vejo este passado e na parede do meu quarto ainda está o seu retrato. Não quero ver pra não lembrar. Pensei até em me mudar. Lugar qualquer que não exista o pensamento em você...E eu...Gostava tanto de você, etc". Vejam que a música é cantada para alguém morto como se ele estivesse ouvindo a homenagem que lhe é feita, não tem nada a ver com invocar o defunto. O outro exemplo semelhante trata-se de nada mais e nada menos do que um poema de Carlos Drummond Andrade, intitulado "um ausente" que diz: "Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto...Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste". Vejam, o poeta por acaso está acusando seu amigo de fato, ou apenas expressando um sentimento emotivo devido a sua partida inesperada que não apenas deixou saudades como também assuntos inacabados?! Ora, pra mim a resposta é mais do que óbvia e a mesma situação se aplica ao que Calvino disse ao referido defunto cujo entendimento sobre a eucaristia era recíproco. Todavia, para os amantes da mentira e inimigos da verdade, que não se contentam com tais explicações porque simplesmente não lhes convém, resta-nos mostrar que em todas as suas obras, Calvino sempre refutou a doutrina da intercessão dos mortos inclusive ao ponto de chamar os supostos mediadores (santos) de espantalhos (pg.352). Tanto em seu comentário sobre as pastorais (2 Tm 2:1-5) como em sua maior obra que foi as Institutas, o reformador pegou pesado com este dogma romanista e antibíblico. Segue abaixo os tópicos que Calvino ao longo de sua vida escreveu e falou sobre a invocação de defuntos (não há espaço aqui para transcrever os parágrafos de cada tópico que se encontra no Livro 3, capítulo 20, seções 17 a 27):

1. Unicamente pela mediação e nome de Cristo nossa oração é aceitável diante de Deus;

2. O Cristo ressurreto é nosso único intercessor junto a Deus Pai;

3. Cristo é o único mediador por cuja intercessão somos ouvidos nos céus;

4. Embora sejamos em vida intercessores uns dos outros, aos fiéis não assiste a função mediatorial;

5. A intercessão atribuída aos chamados santos no romanismo não se fundamenta nas Sagradas Escrituras, e contradiz a singular mediação de Cristo além de marginalizá-la e até anulá-la;

6. A intercessão romanista dos santos engendra supersticiosa veneração dessas criaturas;

7. Os chamados santos do romanismo não podem exercer a função de intercessão;

8. Os que deixaram esta vida além de não possuírem onisciência não tem comunhão com os vivos;

9. Incompatibilidade entre a invocação patriarcal do AT e a invocação dos santos romanistas;

10. A invocação dos santos nesta vida não se perpetua no além e serve de exemplo para os vivos;

11. A invocação dos santos constitui grave sacrilégio contra a suficiência da intercessão de Cristo.

Bem contra fatos não há argumentos! E o fato é que Calvino foi durante toda sua vida e ministério, veementemente contra o dogma da intercessão dos santos. As institutas começou a ser publicada no início do ministério do reformador como edição de bolso e sua última edição terminou como um vasto compêndio teológico. Se Calvino tivesse mesmo feito uma invocação a Melancthon pedindo sua intercessão, com certeza os membros de sua igreja bem como os demais reformadores o teriam refutado publicamente e não existe nada documentado neste sentido. E outra, será que Calvino sofria de mal de alzheimer? Para entrar em gritante contradição pública? nem preciso responder!

Logo, o que estes sites de "apologia" católica tem atribuído ao reformador neste particular, não passa de falácia e grotesca mentira. E como eu falei no início da postagem, a mentira não procede de Deus e sim do Diabo. Sendo assim, sugiro aqui aos responsáveis por estes sites que sejam mais honestos em suas publicações e parem de pecar contra o nono mandamento que diz: "Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo - Ex 20:16". Amém

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa - AIECB)