segunda-feira, 16 de novembro de 2015

As Igrejas Católicas e Reformadas sob o Prisma dos Judeus Messiânicos

Se tirarmos uma “foto” espiritual da Igreja Cristã atual (considerando todos aqueles crentes em Jesus, e que passaram pelo “novo nascimento” no espírito), descobriremos muitos e muitos pontos que necessitam ser repensados, se considerarmos a Igreja deixada por Yeshua e seus discípulos como modelo a ser seguido. 

A Igreja de Yeshua vivia no contexto judaico da época, fiel aos princípios da Torá ou de todo o Tanach (chamado Antigo Testamento), quando Paulo afirmou em sua carta a Timóteo que: ...“toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de D’us seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” ( II Tim 3:16-17). Na época em que Paulo escreveu este texto, obviamente não existia ainda o que conhecemos por Novo Testamento, composto pelos quatro evangelhos, outras cartas do próprio Paulo, João, Pedro, Tiago e outros. Quando Paulo diz “Escrituras”, com certeza absoluta estava referindo-se ao Tanach judaico. 


Yeshua era e continua sendo judeu. As Escrituras são 100% judaicas, e foram escritas segundo o contexto do pensamento judaico, tendo como base a santa Torá, um conjunto de livros escritos pelo próprio D’us através de Moisés. Os profetas seguiram essas mesmas instruções (Torá significa “instrução, Palavra de ensino de D’us”). Yeshua e seus discípulos viveram também dentro deste padrão de fé e revelação. 


Não tenho aqui nenhum propósito de chocar meus irmãos de fé, e tão pouco trazer confusão, com doutrinas novas. Absolutamente, não! Apesar de não ver a Igreja atual vivendo integralmente nos moldes existentes no primeiro século, vejo-a cumprindo sua missão de levar as Boas Novas às nações, segundo o “ide” de Yeshua, salvando milhares e milhares de vidas, por meio da fé no Messias, nosso único caminho para a salvação e a vida eterna. Portanto, vejo a Igreja Cristã como bênção e me sinto parte deste Corpo. 


Mas, com amor, carinho e respeito, gostaria de levantar alguns questionamentos históricos sobre a Igreja da Reforma (incluindo aqui suas inúmeras ramificações e denominações) em relação à Igreja Católica, da qual aquela se separou. 


Os Evangélicos em geral, sentem-se muito confortados pela abençoada Reforma, da qual, desligaram-se há mais de 4 séculos, do sistema da Igreja de Roma; mas será que nada precisa ser mudado, em relação a este estado de “conforto”? 


Sabemos que uma coisa é ser livre, e outra é ser liberto. São dois processos diferentes, que deveriam andar sempre juntos, mas às vezes, isto não acontece na prática. Que a Igreja da Reforma saiu de Roma, e aparentemente do seu sistema, sabemos que é verdadeiro, mas como ela está em relação à autoridade de sua antecessora? Analisemos alguns pontos, por exemplo:


1. A Igreja Católica reconhece que mudou o dia do Senhor de sábado para o domingo, por meio de muitos Concílios como o de Laodicéia (ano 336d.C.), após o Imperador Constantino ter pedido a “Venerablis Die Solis” (O venerável Dia do Sol). Vários líderes da Igreja trabalharam a favor desta mudança, como Graciano, Valentiniano, Teodósio e outros, no século IV. Depois, no século V, o Papa Inocêncio publicou a guarda e o jejum aos domingos. O Concílio de Orleans reforçou a mudança do sábado para o domingo, e finalmente no ano 590 d.C., o Papa Gregório solidificou para sempre o domingo, como o dia do Senhor. São inúmeros os textos bíblicos que mostram a Igreja do Primeiro século celebrando o Shabat. Qual tem sido a opção da Igreja da Reforma em relação a este ponto? 


2. A Igreja Católica desvinculou-se do calendário litúrgico judaico, para impor seu próprio calendário. Ela se diz neste direito, e não temos o que discutir. Mas, cabe a nós a decisão de segui-lo ou não. Por exemplo, os evangélicos celebram o mesmo domingo da ressurreição definido por Roma. O fato em si não é, em minha opinião, nem um pouco relevante. Mas, o que estou propondo à discussão é sobre o princípio de autoridade que foi estabelecido. Para mim, a Bíblia deve ser o nosso único padrão de fé e conduta; se a Bíblia apresenta um calendário litúrgico, por que, então, não seguí-lo? 


3. A Igreja Católica nunca negou que o Natal foi de sua autoria. Fixou o dia 25 de dezembro como o dia do nascimento de Cristo. Neste dia, os romanos celebravam também o “Natalis invicti Solis” (O nascimento do sol vitorioso). Qual tem sido a postura da Igreja da Reforma em relação à esta celebração? (observe que não estou preocupado com o dia, mas com o princípio de autoridade de quem assim determinou);


4. O calendário civil, chamado também de Gregoriano (seguindo o sistema solar) é universalmente seguido por todos os cristãos; todos, sem exceção, consideram o 1º. de Janeiro como o início do ano civil, já adotado mundialmente como o calendário de todas as nações; e quanto ao calendário bíblico, que é lunar?


5. A Igreja Católica diz que à ela foram entregues as “Chaves do Reino”, quando nomearam Pedro como seu primeiro Papa. Ela, então, define o que é bíblico e o que não é bíblico, o verdadeiro do não verdadeiro (falso), pois se vale desta autoridade afirmada por tradição, que ela delegou a si mesma para definir os princípios da fé cristã. Assim, a partir do século IV ela decretou que é a substituta de Israel e do povo judeu. Ou seja, os judeus messiânicos (crentes) deveriam se converter ao catolicismo a partir daquela data para serem salvos, bem como, deveriam deixar de ser judeus. Paralelamente, a Igreja de Constantinopla publicou sua profissão de fé, pela qual todo judeu deveria renunciar a seus costumes, ritos, festas bíblicas, língua, orações, etc.; além de exigir juramento do judeu converso, o qual seria anátema caso um dia voltasse a ser judeu. Qual tem sido a posição da Igreja da Reforma quanto a este item? Por acaso ela reconhece o chamado irrevogável de D’us ao seu povo escolhido? Ou ela também se sente como substituta de Israel, sob a dispensação da graça? 


6. A Igreja de Roma, através do Concílio de Antioquia, proibiu os cristãos de celebrarem a primeira festa do calendário litúrgico, ou seja, a Páscoa, pois assim, as demais festas cujas datas são contadas a partir desta, estariam indiretamente também canceladas. A Igreja da Reforma também não entendeu o real sentido messiânico das festas bíblicas, e as têm ignorado, atribuindo-as somente ao judaísmo tradicional;


7. A Igreja Católica definiu o que é graça, e a separou por completo das leis da Torá. Como a Igreja da Reforma se posiciona quanto aos conceitos e princípios das leis, em relação à vida de um crente em Jesus? Poderia esse crente se beneficiar dos aspectos qualitativos da Lei? Ou a dispensação da graça anula estes princípios? Vemos que há um grande abismo, quanto ao entendimento do que vem ser a Lei sob a forma de mandamentos, estatutos e ordenanças. Alguma coisa é captada como por exemplo: o estatuto judaico do dízimo. Mas, e quanto às outras leis judaicas? Elas foram anuladas pela graça e não podem abençoar a vida de um crente? Claro que sim! Se não, que sentido teria a prática da lei judaica do dízimo? Por que não encontramos um imperativo deste estatuto no Novo Testamento? Por acaso, pelo fato de não o encontrarmos, foi ele anulado, somente porque se encontra no Antigo? Claro que esta lei abençoa e muito aquele que crê e o pratica. Assim também, outras centenas de leis do AT estão disponíveis para os crentes em Jesus. Por que a Igreja da Reforma não se atentou ainda para a importância dessas leis, sob o enfoque da qualidade de vida?


8. Marcião ajudou à compilar o que denominou de Novo Testamento. Depois, ele definiu que o Tanach seria chamado de “Velho Testamento”, ou seja, livro só para os judeus, e que o Novo Testamento é o conjunto de livros para os cristãos. Assim, a Igreja Católica definiu a cronologia dos Livros da Bíblia independentemente da tradição e do pensamento judaico. Hoje, a Igreja da Reforma continua obedecendo os mesmos princípios, e toda Bíblia usada por eles tem escrito logo em sua capa “Velho e Novo Testamentos”, diferindo completamente da ordem Cânon e da cronologia bíblica judaica;


9. A Igreja Católica definiu que o Batismo seria em “Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Hoje a Igreja da Reforma segue a mesma fórmula e não se deu em conta que em nenhum lugar do Novo Testamento encontramos um apóstolo batizando assim, exceto em Mateus 28:19, que não aparece nos manuscritos mais antigos, conforme Eusébio de Cesaréia, em sua obra História Eclesiástica – São várias as passagens em que vemos os apóstolos batizando em nome de Jesus (Yeshua), como Atos 2:38;8:16;19:5; e outras passagens;


10. A Igreja Católica valendo-se da língua latina, traduziu muitos nomes de profetas e o próprio nome de Yeshua para versões que não trazem em si, suas interpretações originais. Por exemplo, Jesus, que no latim é “Iesus”, foi a transliteração do termo grego “Iesous”, que por sua vez é a transliteração da palavra hebraica “Yeshua”, que quer dizer “D’us é salvação”, nome este que consta tanto no AT como no NT. O mesmo acontece com o nome de D’us; 


11. A Igreja de Roma não deu importância à língua hebraica. Com isto, perdeu-se muito do contexto judaico das Escrituras. Por exemplo, poucos cristãos sabem o que significa o acróstico AMÉM ou o termo “Barách” que significa abençoar. No sentido hebraico “Barách” significa conceder a alguém poder para que este que recebe a benção seja bem sucedido e próspero. Existem inúmeros erros de tradução, frutos de desconhecimento da língua hebraica, a começar pela alteração dos nomes dos Livros da Bíblia, como Torá (Instrução, Ensino de D’us) para Pentateuco, de “Shemot” (Nomes) para Êxodo; de “Bamidbar” (No Deserto) para Números, etc. Qual tem sido o contexto no qual a Igreja da Reforma se baseia para interpretar as Escrituras? A cultura ocidental, sobretudo a helênica, ainda se faz muito presente no meio da Igreja da Reforma. 


12. A Igreja Católica afirma ser a fiel depositária da Palavra da fé. A Bíblia afirma que “ao povo judeu foram confiados os oráculos de D’us” (Rm 9:4). E, afinal, a Igreja da Reforma não tem afirmado o mesmo? 


13. Quanto ao relacionamento Igreja e Israel, os cristãos têm praticamente a mesma postura de indiferença quanto ao povo judeu. O conceito de que os judeus foram os assassinos de D’us (Deicídio), pensamento tão difundido na Igreja Católica durante os primórdios de sua fundação, ainda encontra espaço no meio da Igreja da Reforma. O amor a Israel, o comprometimento com sua salvação, bem como os investimentos feitos nos últimos séculos, têm sido insignificantes, se levarmos em conta os textos bíblicos que solicitam à Igreja interceder constantemente pela salvação do povo judeu, bem como ajudar os judeus (messiânicos) de Israel com bens materiais. Estes itens foram muito bem lembrados aos gentios crentes, pelo apóstolo Paulo (Rm15:27);


Poderíamos ainda citar mais e mais tópicos sobre a necessidade da Restauração nos moldes da Igreja do Primeiro Século. A reconciliação da Igreja com Israel, faz-se extremamente necessária nos dias atuais. Israel precisa ser salvo para que Yeshua volte para sua terra. Ele, o Messias, não voltará para implantar o Seu Reino em Nova York, ou em Paris ou mesmo em qualquer outra cidade do mundo. Ele voltará, cremos, em breve, para Jerusalém, conforme nos diz e confirma a Palavra em que cremos.


Meu intuito não é dividir mais a Igreja Cristã, ao escrever este artigo. Pelo contrário, meu desejo sincero é a nossa unidade. Não se trata também de ajuntar todas as denominações cristãs numa só, não! Mas, aquilo que nos une (o sangue do Cordeiro Yeshua, sua salvação e vida eterna) deveria falar mais alto do que nossas diferenças. 


Afinal, conforme o Evangelho de João, Yeshua rogou para que nós fôssemos um, assim como Ele e o Pai também o são, a fim de que o mundo creia que Ele, o Messias, foi enviado por parte de D’us ( Jo 17:21). O Noivo espera ver sua “Noiva” num só Corpo e numa só família, judeus e gentios crentes (Ef 2:19). É tempo de restaurar. É tempo de voltar às nossas raízes. Se todo cristão possuísse a Torá como base de suas interpretações, com certeza teríamos menos divergências entre nós e, conseqüentemente, haveria mais unidade. Por isso, é tempo de reconciliar e declarar nossa unidade e as Boas Novas até aos confins da Terra (não esqueçam que a terra de Israel foi mencionada por Yeshua prioritariamente, em relação aos “confins” da Terra – At 1:8) para que nosso Messias venha em glória estabelecer o Seu Reino Milenar.


Maran Ata ! Seja breve sua Vinda, Senhor Yeshua Há Mashiach !

Fonte: http://www.cafetorah.com/A-Igreja-Crista-Rumo-a-Igreja-do-Primeiro-Seculo

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Igrejas na Turquia (antiga Ásia Menor) à Beira da Extinção

Muito embora os cristãos sejam uma pequena minoria na Turquia de hoje, o cristianismo tem uma longa história na Ásia Menor, terra natal de diversos apóstolos e santos cristãos, inclusive Paulo de Tarso, Timóteo, Nicolau de Mira (Lícia) e Policarpo de Esmirna.

Todos os sete primeiros Concílios Ecumênicos foram celebrados no que é a Turquia de hoje (a Turquia se divide em 2 continentes: Europa e Ásia). Dois dos cinco centros (Patriarcados) da antiga Pentarquia, Constantinopla (Istambul) e Antioquia (Antakya), também estão localizados na Turquia. Antioquia foi o lugar em que pela primeira vez os seguidores de Jesus foram chamados de "cristãos".

A Turquia também é a terra natal das Sete Igrejas da Ásia, para onde foram enviadas as Revelações de João. Nos séculos seguintes inúmeras igrejas foram construídas naquela região.

Uma delas, a Hagia Sophia já foi a maior catedral do mundo cristão, até a queda de Constantinopla nas mãos dos otomanos no século 15, seguida por 3 dias de saques desenfreados.

Hoje a Turquia conta com uma percentagem menor de cristãos em relação a sua população do que a de qualquer um de seus vizinhos, menos que na Síria, Iraque ou Irã. A maior causa disso foram os massacres ou genocídios assírios, armênios e gregos ocorridos entre 1915 e 1923.

Pelo menos 2,5 milhões de cristãos nativos da Ásia Menor foram mortos, abertamente massacrados ou vítimas de deportações, trabalho escravo ou marchas da morte. Muitos deles morriam em campos de concentração, de doenças ou inanição.

Muitos gregos que sobreviveram ao massacre foram expulsos de suas casas na Ásia Menor em 1923, quando da troca forçada da população entre a Turquia e a Grécia.

A devastação física foi seguida pela devastação cultural. Do começo ao fim da história da república turca, inúmeras igrejas e escolas cristãs foram destruídas ou transformadas em mesquitas, depósitos e estábulos, entre outras coisas.

Os grupos de cristãos que são mais severamente perseguidos são: grupos tradicionais (armênio, grego, siríaco e igrejas católicas) são todos monitorados regularmente e sujeitos a certos controles e limitações por parte do governo. Seus membros são considerados "estrangeiros" em muitos assuntos de responsabilidade pública. Grupos evangélicos se encontram em lares, por não poder pagar um lugar para encontros.

O grupo de recém-convertidos que, são cristãos convertidos de origem muçulmana, suporta um dos maiores pesos da perseguição na Turquia. A pressão vem da família, amigos, comunidade e até mesmo das autoridades locais. Eles são considerados traidores da identidade turca.

Fonte: http://pt.gatestoneinstitute.org/5600/igrejas-turquia
https://www.portasabertas.org.br/cristaosperseguidos/perfil/turquia/

domingo, 1 de novembro de 2015

Afinal de Contas de Onde Surgiu a Bíblia e Qual Seu Real Valor?

Já escrevi neste blog um artigo sobre a importância da Bíblia (Sagradas Escrituras) como única regra de fé e prática cristã, pontuando inúmeras e contundentes razões, mesmo diante do desprezo que muitos grupos ditos cristãos têm para com ela. Referindo-me aos neoevangélicos e católicos romanos. 

Pra minha surpresa, começou a circular nas redes sociais as declarações da imagem ao lado, com relação a Palavra de Deus escrita através de ditos de nomes que são tidos como referência no meio protestante e católico em seus setores mais conservador. As frases são bem elaboradas. Mas, por incrível que pareça há equívocos e verdades em ambas as afirmações tanto na do padre como na do pastor. Deixe-me citar sucintamente alguns, para maior esclarecimento quanto ao assunto em pauta, afim de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus:

Simplificando alguns acertos: 1) as Sagradas Escrituras já existiam desde o tempo de Moisés, só não estavam completas como hoje com seus 66 livros...acertou o pastor. 2) De fato, a compilação da Bíblia foi feita pela igreja antiga que no tempo era denominada católica, século 4...acertou o padre. 

Simplificando alguns erros: 1) Quando a Bíblia foi tida como completa no século 4 pela igreja católica antiga, ela ainda não era conhecida oficialmente como católica romana...logo, não foi a igreja católica romana que compilou a bíblia e sim a igreja universal (católica) da época...errou o padre. 2) Quando o Novo Testamento foi escrito no 1º século pelos apóstolos a igreja ainda não possuía nenhuma denominação de fato, nem era católica e nem protestante. Todavia, o pastor erra quando diz que antes do século 4 não havia igreja católica. Pois, a igreja apostólica se tornou católica (universal) a partir do 2º século e não do 4º. O que não existia antes do século 4 repito, era a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) que na verdade não surgiu no século 4, e sim, no século 11...equivocou-se no caso o pastor. Em outra postagem aqui do blog, já expliquei que existem vários tipos de catolicismo no mundo. Principalmente no Oriente. A igreja católica que conhecemos é a romana que predomina no mundo ocidental...poucas pessoas sabem disso por que não pesquisam as origens de sua própria fé. Por isso, que na Reforma, os reformadores lutaram para que a igreja voltasse ao modelo dos 4 primeiros séculos da era cristã quando não havia penetrado o paganismo no cristianismo por meio do imperador Constantino que foi o primeiro a promover a Igreja de Roma que fazia parte da capital do império. 

Mas, afinal de contas qual o valor de uma discussão acerca da origem da bíblia? Qual a importância se seus reais compiladores foram hebreus, judeus, católicos ou protestantes? Para mim, o importante é saber que desde a antiguidade a Bíblia está parcial ou totalmente a disposição da humanidade. Seja por meio dos hebreus, dos judeus, dos católicos ou dos protestantes. Nada adiante ter um mapa ou uma bússola e não se guiar por eles.

No caso de nós cristãos reformados (protestantes), o valor da bíblia não está em sua compilação por mais importante que tenha sido seu processo, mas sim, em seguirmos seus santos ensinos (Sl 1:1). 

SOLA SCRIPTURA sempre. Louvemos a Deus pelo Catolicismo primitivo que nos deu a Bíblia em sua forma atual com 72 ou 66 livros, e mais ainda, pela Reforma Protestante que trouxe a Bíblia pra o povo de Deus e o povo de Deus para a Bíblia novamente através de sua tradução, leitura e pregação vernacular!

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/AIECB)

sábado, 31 de outubro de 2015

498 anos de Reforma Protestante: Igreja Reformada Sempre se Reformando...nunca inovando!

Estamos as vésperas dos 498 anos de Reforma Protestante (há quem a coloque no plural=reformas). 

Uma das premissas da Reforma foi "Igreja Reformada Sempre se Reformando". 

Isto significava duas coisas:
1ª) Por um lado, os principais reformadores (com exceção dos anabatistas) nunca entenderam que estavam criando uma nova religião, mas sim, apenas reformando a única religião cristã de todos os tempos desde os apóstolos. Em outras palavras, estavam tirando as arestas da igreja medieval no Ocidente (o que aliás, é bastante discutível até hoje, com que autoridade ousaram fazer e se é que de fato o fizeram).

Quem lê as Instituas de Calvino por exemplo, sabe que o mesmo, a semelhança dos demais reformadores, basearam sua interpretação da bíblia não apenas na exegese ou hermenêutica mas também nos escritos dos chamados pais da igreja. Calvino era do parecer que, a interpretação pós-apostólica da patrística que embora não fosse perfeita, todavia, por sua vez tinha lançado as bases da ortodoxia cristã teologicamente falando (trindade, cristologia, cânone, etc). Porém, a mesma tinha sofrido alterações ao longo dos séculos e se distanciado cada vez mais do ensino do Novo Testamento. Principalmente, a partir do século 12 após a ruptura com o Oriente (neste particular, Calvino culpava a Escolástica).

Assim, sendo, por "igreja reformada sempre se reformando" o grito da Reforma consistia em voltar sempre ao modelo de igreja da Bíblia Sagrada ou ao menos aos modelos das igrejas dos 3 primeiros séculos da Cristandade primitiva. Nesta linha se encontram ainda hoje denominações como o luteranismo e o anglicanismo;

2ª) Por "igreja reformada sempre se reformando", os reformadores não tinham a mínima pretensão de dar a igreja novos paradigmas extra-escriturísticos de acordo com a cultura, modismo ou demais conveniências e vaidades humanas...para eles "igreja reformada sempre se reformando" não significava reformar no sentido de inovar! Absolutamente não, não era esta a proposta. 

Hoje, após quase 500 anos de duras reformas religiosas (incluindo perseguições e martírios), muitíssimas igrejas oriundas direta ou indiretamente da Reforma Protestante estão no mesmo caminho da igreja católica medieval no que diz respeito a não ter a Bíblia Sagrada como fonte e regra única de fé e prática cristã. Por mais lamentável que seja, isso é um fato e contra fatos não há argumentos!

Quem conhece um pouco da história eclesiástica e secular sabe muito bem dos abusos naquela época da igreja estatal, da corrupção moral do clero, da ignorância e analfabetismo bíblico, da exploração da fé leiga por meio das vendas de indulgências e outras relíquias cristãs, do tribunal da santa inquisição, etc. Coisas essas pelas quais a ICAR através dos papas João Paulo II e Bento XVI chegou a reconhecer e pedir perdão por elas!

A maior parte do protestantismo atual representado pelas igrejas liberais, emergentes, pentecostais e neopentecostais dentre tantas outras bizarrices gospel, não tem deixado por menos com a venda de bênçãos, curas, prosperidade material e até terreno no céu como foi o caso da IURD. Até mesmo igrejas históricas como a luterana e anglicana tem ordenado pastoras que advogam que Deus não deve ser chamado de Ele e sim de Ela, e realizado casamentos de homossexuais. Igrejas como  Bola de Neve realizam batismos em toboágua, celebram a Santa Ceia com suco de maracujá e biscoito, e outras que promovem as piores atrocidades em nome de Cristo e do Espírito Santo como a unção do riso, da dieta, dente de ouro, cusparada santa e por ai vai. Uma verdadeira bagunça! Aonde vamos parar? O quê fazer daqui pra frente? Recuar ou avançar? Continuar reformando ou deformando?

Dado a todos estes escândalos (pra ficar barato), além da deficiência doutrinária, não são poucos os que de Norte a Sul, e de Leste a Oeste no Brasil e no mundo inteiro tem clamado por UMA NOVA REFORMA PROTESTANTE. O que diga-se de passagem, não é nada fácil. Talvez, muito mais difícil que no século 16. Tanto, que ramos do anglicanismo e luteranismo tem retornado a ICAR. Aliás, para a Igreja Católica Apostólica Romana o que houve não foi Reforma e sim Revolta. Segundo ela, os verdadeiros reformadores da igreja foram os santos como Francisco de Assis, Bernardo de Claraval, e os Jesuítas (dentre tantos outros de sua extensa galeria, cuja maioria foram canonizados). De acordo com o Vaticano e seus apologetas, a reforma protestante errou feio ao tentar corrigir dogmas milenares ao invés de comportamentos morais e éticos de seus fiéis e clérigos.

Confesso que a questão em si é bastante polêmica e complexa, afinal de contas, são 2000 anos de Cristianismo Global. Não me vejo na condição de apontar uma solução eficaz. Só posso dizer que não fui eu quem começou com todas estas brigas, facções e corrupções (meus pecados são outros) e tampouco, serei eu que acabarei com elas, estou apenas expondo fatos da forma mais imparcial e despreconceituosa possível. Porém, a uma conclusão tenho chegado em meio a toda esta Babel Religiosa, a saber, que vale a pena a nós que somos reformados (independente da ala) continuar lutando por mais reforma dentro de nossos círculos e até onde for possível, a luz de nossa tão rica herança reformada que tem como lema 5 bases: Sola Scriptura, Sola fide, Sola Gratia, Solus Christus e Sole Deo Gloria. Em outras palavras, ou continuamos reformando por meio de uma pregação bíblica e sólida dos nossos púlpitos ou nos tornaremos responsáveis pela deformação da igreja em sua forma visível ao assumir uma postura diferente de nossos ancestrais na fé (reformadores e puritanos), ao aceitar passivamente a corrupção generalizada da própria igreja protestante. É isto que queremos?

Fica então a dica: "Igreja Reformada Sempre se Reformando à luz da Bíblia e da história eclesiástica...nunca inovando (ou deformando)!". Amém

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa - AIECB)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Concílio de Trento e a Contra Reforma Católica

O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico da Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e da reação à divisão então vivida na Europadevido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contrarreforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, na Província autônoma de Trento, região do Tirol italiano.

O Concílio de Trento, atrasado e interrompido várias vezes por divergências políticas ou religiosas, foi um conselho de uma grande reforma, uma personificação dos ideais da Contrarreforma. Mais de 300 anos se passaram até ao Conselho Ecumênico seguinte. Ao anunciar o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII afirmou que os preceitos do Concílio de Trento continuam nos dias modernos, uma posição que foi reafirmada pelo Papa Paulo VI.

História: O Concílio de Trento foi o concílio ecuménico mais longo da História da Igreja Católica. Foi também o concílio que "emitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas, e produziu os resultados mais benéficos", duradouros e profundos "sobre a fé e a disciplina da Igreja".

Para opôr-se ao protestantismo, o concílio emitiu numerosos decretos disciplinares e especificou claramente as doutrinas católico‐romanas quanto à salvação, os sete sacramentos (como por exemplo, confirmou a presença de Cristo na Eucaristia), o Cânone de Trento (reafirmou como autêntica a Vulgata) e a Tradição, a doutrina da graça e do pecado original, a justificação, a liturgia e o valor e importância da Missa (unificou o ritual da missa de rito romano, abolindo as variações locais, instituindo a chamada "Missa Tridentina"), o celibato clerical, a hierarquia católica, o culto dos santos, dasrelíquias e das imagens, as indulgências e a natureza da Igreja. Regulou ainda as obrigações dos bispos.

Foram criados seminários nas dioceses como centros de formação sacerdotal e confirmou-se a superioridade do Papa sobre qualquer concílio ecumênico. Foi instituído o "Index Librorum Prohibitorum", um novo Breviário (o Breviário Romano) e um novo Catecismo (o Catecismo Romano). Foi reorganizada também a Inquisição.

Celebrou-se em três períodos:

1º Período (1545-1548) — Celebraram-se 10 sessões, promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura eTradição, o pecado original, a justificação e os sete sacramentos em geral e vários decretos de reforma disciplinar;

2º Período (1551-1552) — Celebraram-se 6 sessões, continuando a promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda sobre sacramentos, particularmente sobre a eucaristia (nomeadamente sobre a questão da transubstanciação), a penitência, e a extrema-unção. A guerra entre Carlos V e os príncipes protestantes constituiu um perigo para os padres conciliares de Trento;

3º Período (1562-1563) — Convocado pelo Papa Pio IV, foi presidido pelos legados cardeais Ercole Gonzaga, Seripando, Osio, Simonetta e Sittico. Estiveram ainda no concílio os cardeais Cristoforo Madruzzo, bispo de Trento e Carlos Guise. O Papa enviou os núncios Commendone e Delfino aos príncipes protestantes do império reunidos em Naumburgo, e Martinengo à Inglaterra para convidar os protestantes a virem ao concílio. Neste período realizaram-se 9 sessões, em que se promulgaram importantes decretos doutrinais, mas sobretudo decretos eficazes para a reforma da Igreja. Assinaram as suas atas 217 padres oriundos de 15 nações.


Resumo: Os decretos tridentinos e os diplomas emanados do concílio foram as principais fontes do direito eclesiástico durante os 4 séculos seguintes, até à promulgação do Código de Direito Canónico em 1917.

"No Concílio, nenhum consenso foi possível, este acabou apenas por reafirmar os princípios católicos, condenando o protestantismo. Entretanto, algumas medidas moralizadoras começaram a ser tomadas, como a proibição da venda de indulgências e a criação de escolas para a formação de eclesiásticos.

A Reforma Católico‐romana foi reforçada pela criação, em 1540, da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada pelo espanhol Inacio de Loyola. A Companhia de Jesus transformou-se num verdadeiro "exército" em defesa da manutenção dos princípios católicos e da evangelização na Europa, na Ásia e nas Américas.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento

sábado, 26 de setembro de 2015

A Igreja Evangélica Pós-Moderna e a Pirataria Cristã

Não é somente no comércio e no ramo dos negócios que a pirataria tem crescido. No meio religioso, o mesmo fenômeno também tem acontecido. Principalmente, no meio dito evangélico.
O crescimento da igreja evangélica no Brasil e no mundo é algo notório. A cada dia que passa, cresce o número de "igrejas" e "pastores" no cenário nacional e estrangeiro. Não há como negar que tem havido um crescimento espantoso daqueles que se intitulam evangélicos. A cada dia o número de adeptos deste ramo cristão tem crescido de forma bastante acelerada. A "fé evangélica" tem se popularizado entre artistas e gente comum de norte a sul e de leste a oeste em todo o globo terrestre. Segundo pesquisas mais recentes, o número aproxima-se em torno de 5 milhões no Brasil e cerca de 1 bilhão em todo o planeta. Todavia, muito se questiona a razão e a natureza de tal crescimento. O pastor presbiteriano Josafá Vasconcelos critica tal crescimento alegando o triste fato que, "a igreja evangélica cresce como um lago e não como um oceano. Ou seja, cresce apenas na extensão porém com pouca profundidade. Segundo ele, melhor seria que não tivesse crescido tanto". Alguém pode achar tal declaração muito radical, mas pessoalmente, concordo com o reverendo. Afinal de contas, que adianta crescimento em quantidade mas sem qualidade? A igreja primitiva crescia em ambos os aspectos (At 2:38-47).
Basta darmos uma olhada no tipo de cristãos que tem surgido no meio evangélico e logo ficamos horrorizados com a natureza da profissão de fé e do testemunho de vida que estes "novos conversos" apresentam. A grande maioria não tem compreensão do próprio evangelho e tampouco noção bíblica da própria vida cristã. O cristianismo de muitos "evangélicos" hoje em dia, limita-se a jargões e modismos religiosos, nada mais! Isso sem levarmos em conta os escândalos e bizarrices gospel que a cada dia surge no cenário evangelical. Nos referimos a pessoas que mudam de credo religioso e ambiente, mas que infelizmente, não mudam de vida. Pessoas que afirmam estar seguindo a Jesus, mas, ainda assim fazendo shows seculares, filmes pornográficos, etc, etc. Onde está a verdadeira raiz do problema? Permitam-me listar alguns:
1. Evangelização Pirata. Muitos que tem entrado nas fileiras evangélicas não têm sido verdadeiramente evangelizados. Ou seja, não tem ouvido a pregação pura do evangelho bíblico. São evangelizados por meio de jargões religiosos ou promessas de bem estar e prosperidade material. Nada ouvem acerca da Santidade de Deus, da pecaminosidade do ser humano, da necessidade de arrependimento e conversão, fé em Cristo e sua doutrina do discipulado, novo nascimento, santificação, vida eterna, etc. O "evangelho" que muitos tem ouvido e conhecido é "pare de sofrer" ou algum outro tipo de paliativo e auto-ajuda para se ser feliz neste mundo. Porém, ao aceitar este tipo de mensagem, muitos já são catalogados no rol de membro de alguma "igreja local" e no censo do IBGE mesmo sem terem tido uma real experiência de reconciliação com Deus por meio de seu Filho Jesus.   
2. Pastores e Igrejas Piratas. O cristianismo que muitos tem aceito não passa de um cristianismo pirateado, ou seja, falsificado! Além de não ouvirem a verdadeira pregação do evangelho bíblico, muitos tem sido vítimas de falsos profetas cujo objetivo é a promoção pessoal com a abertura de suas próprias "igrejas". Essa é a razão principal ao meu ver do crescimento tão veloz, mas porém, tão superficial dos evangélicos. A cada dia que passa, 'novas igrejas" e "novos pastores e até pastoras" tem aparecido de todo tipo e de todos os gostos. Tais igrejas e tais pastores fazem de tudo para ganhar pessoas para o seu gueto. Para eles, "os fins justificam os meios". Vale tudo: batismo em tobo-água, santa ceia com biscoito e suco de maracujá, ser artista de cinema pornô, funk e balada gospel, profetadas, piruetas, falsas curas e milagres, etc, etc. Desde que seus "fiéis" se sintam "felizes" e assim, encham os bancos ou cadeiras de suas igrejas e encham os cofres das mesmas também. Aliás, para tais 'pastores" que cobram para orar, para curar, para profetizar, para batizar, para casar, e para outras coisas mais, os únicos tipos de pecados que combatem são a falta de contribuição financeira e a crise nos relacionamentos em seus círculos. Com "pastores" assim que pregam tudo menos a bíblia, o número de cristãos pirateados só tende a crescer em extensão mesmo. Porém, vale lembrar que "nem todo que chama Jesus de Senhor entrará no Reino dos Céus - Mt 7:21 a 23". Ai de tais cristãos e tais pastores que enganam e são enganados!
3. Pregação Pirateada. Como se não bastasse no movimento evangelical uma evangelização sucateada por meio de "pastores e igrejas" de araque, os novos evangélicos são vítimas de um falso discipulado cristão. No cristianismo pirateado, a Bíblia Sagrada não ocupa lugar de destaque na vida e liturgia cristã. A bíblia já não é mais a única regra de fé e prática. O que vale é o sentir, o achar, o louvar, o espetacular, o se divertir, etc. Para o "novo movimento evangélico" a bíblia é um livro chato, complicado e ultrapassado. O único respeito que se tem pela bíblia nas "novas igrejas evangélicas" deve-se ao fato de sua antiguidade e tradição, nada mais. E assim, vivem um cristianismo e vida cristã sem bíblia. Neste novo estilo cristão, mais importante que a pregação bíblica são as peças teatrais, as coreografias, os shows, as dinâmicas, e qualquer outro tipo de descontração. Nada de quebrantamento, consagração, ou real compromisso com Deus e Sua Palavra.
4. Rompimento com a História e Tradição EclesiásticaO mais incrível de tudo que se vê no novo evangelicalismo além do abandono bíblico que por sua vez leva a um falso evangelismo e plantação de igreja e ordenação pastoral, é o fato de acharem que antes dele não havia cristianismo. Ora, para quem não sabe, a igreja cristã possui mais de 2000 anos de existência. Antes de nós, já havia cristãos no mundo. É de admirar que o novo mundo gospel não leve isso em consideração. Para este movimento, igrejas históricas e tradicionais como a anglicana, luterana, reformada, presbiteriana, congregacional, metodista, e outras de mesma linha doutrinária já não são referência em matéria de cristianismo bíblico e histórico. Que absurdo acharem que o cristianismo começou somente agora com a IURD, a Mundial, a Vitória em Cristo e outras igrejas fundo de quintal! Não é a toa que "a atual igreja evangélica" é representada na mídia e na sociedade por "pastores" como Edir Macedo, Valdemiro Santiago, Romido Ribeiro Soares, Silas Malafaia, Estevam Hernandes e outros pregadores da Teologia do Triunfalismo e da Prosperidade. Poucos são os que conhecem o verdadeiro evangelho pregado pelos reformadores João Calvino e Lutero, bem como por outros célebres pregadores de nosso tempo como John Piper, Paul Washer, Franklin Ferreira, Walter Mcalister, Augustus Nicodemus, e outros pastores de igrejas evangélicas tradicionais e históricas.
Conclusão. Se formos catalogar todos os itens que descrevem a real condição da igreja evangélica pós-moderna e seus principais representantes como Marco Feliciano, Thales Roberto, Baby Consuelo, Ana Paula Valadão,  e outras aberrações, não teremos tempo nem espaço. Fica aqui apenas algumas observações concernente ao falso crescimento evangélico de nossos dias. As verdadeiras igrejas evangélicas de fato tem crescido pela graça divina, entretanto, seu crescimento em quantidade e qualidade não tem sido tão notável pela mídia e imprensa como deveria. Afinal de contas, o que dar ibope mesmo são as marmeladas religiosas e não a verdadeira identidade e vocação cristã. Que Deus tenha misericórdia dos que tem se iludido com o falso evangelho de nossa geração! Voltemos ao Evangelho puro e simples.

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/AIECB)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A Mais Nova Blasfêmia do Feminismo "Cristão": Deus é "Ela"

Quando a gente pensa que já viu de tudo no mundo cristão, aparece mais uma notícia que deixa qualquer um de queixo caído.

Um grupo da Inglaterra lança campanha nas redes sociais para incentivar fiéis a se referirem ao Todo-Poderoso no feminino, contra o sexismo religioso. Isso mesmo, um grupo de cristãs de Oxford, na Inglaterra, lançou uma campanha para incentivar os fiéis a se referirem a Deus no feminino, como "Ela"

"Quando usamos apenas o masculino para Deus reforçamos a ideia de que Deus é como um homem. Assim, sugerimos que Deus é mais semelhante aos homens do que às mulheres", diz a pastora Emma Percy, uma líder do movimento, ao jornal "Sunday Times". Emma é pastora anglicana da capela do Trinity College, em Oxford, na Inglaterra, e alegou que chamar Deus apenas de "Ele" nos cultos, dá a ideia de sexismo, que é o conceito de superiorizar o sexo masculino, em detrimento do feminino. Batizado de "Watch" e mais conhecido como "Mulheres e a igreja" nas redes sociais, a iniciativa contra o sexismo religioso afirma que usar apenas o "Ele" nos rituais e nas orações faz com que a entidade aparente ser mais distante das mulheres.
Segundo o jornal "Metro", outra pastora anglicana, Kate Bottley, já retira, quando possível, todas as referências a "Ele" e "Dele" durante a pregações

De acordo com estas "boas novas" já não podemos ler: "Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém - Rm 11:36". Mas sim, "Porque dela e por ela, e para ela, são todas as coisas; glória, pois, a ela eternamente."


Sinceramente, dá para algum cristão sério dizer amém? Aonde vamos parar com tanta invencionice...deixo aqui meu tradicional e inegociável protesto: Sola Scriptura! Somente as Sagradas Escrituras pode ser nossa ÚNICA REGRA DE FÉ E PRÁTICA.

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2015/06/01/cristas-lancam-campanha-para-se-referir-deus-como-ela-567614.asp

A "Apóstola" Sol e as Loucuras do Mundo Gospel e do Feminismo Cristão

Numa mistura de Xena, Cavaleiros do Zodíaco e Joelma do Calipso, surgiu esse colapso.
Pertencente à igreja Reino dos Céus, Daniela Carvalho tem 23 anos e se intitula a "apóstola sol". 

Sou aquela que João viu na ilha de Patmos e escreveu no apocalipse 12. Sou vestida de sol e tenho a coroa de 12 estrelas na minha cabeça – coroa do apostolado – e a lua debaixo dos meus pés. Lua não tem luz. A lua representa as igrejas fracas sem revelação cheias de pessoas doentes e fracassadas pela macumba”. Ela falou!

Membros de sua igreja dizem que ela é a noiva do cordeiro, sem mancha e sem mácula e que até já fotografaram uma legião de anjos ao redor da jovem. 

Umas das chocarrices se trata de Daniela ser a última revelação de Deus na Terra...!!! E tem mais, segundo a propaganda em sua conta no Facebook, a apóstola alcança 1 milhão de pessoas em 48 horas.

Um dos trechos que exaltam a soberania de Daniela no site site oficial da igreja, diz: "O Apóstolo trouxe a mensagem de Deus falando sobre a importância do ministério da Primaz no santuário. Reino significa que tem rainha e nossa rainha é o santuário do Senhor". O termo "primaz" se refere ao cargo ocupado por quem está acima de bispos e arcebispos, segundo a igreja católica.

Tão jovem, tão bonita! Mas o que tem de bonita, tem de insana (ou seria esperta?). A menina conta com canal no youtube, fâ clube e um bocado de gente que realmente acredita em seus trabalhos e profecias...não tá sozinha não. Apóstolo Valdemiro Santiago & Cia que se preparem porque abriram a porteira e a concorrência é forte!!!

Fonte: http://www.ofuxicogospel.com/2015/07/apostola-do-sol-diz-ser-ultima.html

John Wycliffe: A Estrela da Manhã da Reforma Protestante

Uma igreja em declínio

Durante o século XIV houve algumas tentativas de reforma da igreja, mas esta reforma não era dirigida contra as questões doutrinárias, mas contra a vida religiosa na prática, em particular contra os abusos presentes na igreja medieval. Ao mesmo tempo, houve outro movimento de reforma muito mais radical, que não se contentava em atacar questões referentes à vida e aos costumes, mas queria corrigir também as doutrinas da igreja, ajustando-as à mensagem do evangelho. Entre os que seguiram este caminho, os que mais se destacaram foram John Wycliffe e Jan Huss (1370-1415). Wycliffe viveu durante a época do “cativeiro babilônico” do papado (quando o papado foi estabelecido em Avignon, na França), e no início do “Grande Cisma” (que começou em 1378, quando dois papas rivais tentaram exercer autoridade sobre a igreja). Estes homens prepararam o caminho para a reforma protestante do século XVI.

A igreja possuía mais de um terço das terras da Inglaterra. O clero era normalmente inculto e imoral. Altos cargos na igreja eram comprados ou dados como favores políticos. Aos ingleses desagradava enviar dinheiro para um papa em Avignon, que estava sob influência do inimigo da Inglaterra, o rei da França. 

Um erudito cristão

Sabemos muito pouco da juventude de John Wycliffe, que nasceu em cerca de 1328, em uma rica família inglesa, no Condado de Yorkshire. Ele começou sua vida acadêmica aos 13 anos, indo estudar na Universidade de Oxford que tinha alcançado grande reconhecimento, tendo sido considerada por muitos como a principal universidade na Europa. Tristemente, naquela época, em lugar de estudar as Escrituras, os homens gastavam o tempo estudando filósofos como Tomás de Aquino (c. 1224-1274) e John Duns Scotus (1265-1308). 

Wycliffe continuou seus estudos, financiando-os de uma forma duvidosa, mas de modo muito comum em sua época – aceitou um ofício pastoral e o salário atribuído a ele, mas sem cumprir suas obrigações. Isto possibilitou continuar sua carreira acadêmica em Oxford, recebendo seu doutorado em 1372, quando se tornou um dos mais brilhantes teólogos e filósofos de sua época.

Wycliffe saiu da universidade em 1371, para se colocar a serviço da coroa, ajudado pelo poderoso John de Gaunt, o Duque de Lancaster, filho de Eduardo III. Na época, havia tensões entre o trono inglês e o papado romano, particularmente com referência a certos impostos que o papado estava exigindo da Inglaterra. Wycliffe saiu em defesa da coroa, atacando a teoria que dizia que o poder temporal (estatal) se origina do espiritual (eclesiástico). Ele participou também de uma embaixada em 1375, em Bruges, na Bélgica, em que discutiu com os legados do papa os pontos em debate. Parece que sua lógica inflexível, aliado a sua falta de senso da realidade política, tornava-o pouco apto para o serviço diplomático, e por isto ele não voltou a ser enviado em missões semelhantes. A partir de então ele foi usado principalmente como um polemista demolidor, que o estado inglês empregava contra seus inimigos da igreja.

Um crítico da Igreja

Wycliffe então voltou para a Universidade de Oxford, onde tinha muitos seguidores e admiradores. Ele tem sido chamado de a “estrela da manhã da Reforma”, porque audaciosamente questionou a autoridade papal, criticou a venda de indulgências (a qual supostamente libertava as pessoas do castigo do purgatório), falou abertamente contra a hierarquia eclesiástica e negou a realidade da transubstanciação – a igreja romana dizia que a substância do pão e do vinho é mudada em corpo e sangue de Jesus Cristo durante a missa. Ele entendia que a substância dos elementos era indestrutível e que Cristo estava apenas espiritualmente presente no sacramento. Em suas palavras, “quando vemos a hóstia não devemos crer que ela própria é o corpo de Cristo, mas que o corpo de Cristo está sacramentalmente escondido nela... A nós cristãos é permitido negar que o pão que consagramos é idêntico ao corpo de Cristo, embora seja ele um sinal eficiente dele... [Aqueles que identificam] falham em distinguir entre a figura e a coisa figurada e em considerar o significado figurativo... O receber espiritual do corpo de Cristo consiste não num receber corpóreo, no mastigar ou tocar da hóstia consagrada, mas no alimentar da alma de fé frutífera conforme a qual nosso espírito é alimentado no Senhor... Porque nada é mais horrível do que a necessidade de comer a carne materialmente e o beber o sangue materialmente de um homem amado [Jesus Cristo] tão claramente” (A Eucaristia 1:2, 11; 7:58; 1:15). Se adotada, a posição de Wycliffe significaria que o sacerdote não mais reteria a salvação de alguém por ter em suas mãos o corpo e o sangue de Cristo na comunhão. 

Seus ataques contra os monges (as ordens monásticas eram comprometidas com a pobreza, mas toda a sua considerável riqueza era mantida de forma injusta, não lhes pertencendo de forma legítima), que tinham começado anos antes, lhe valeram muitos inimigos. Em 1377, o papa Gregório XI condenou John Wycliffe por seus ensinamentos e pediu que a Universidade de Oxford o demitisse. Por instigação do arcebispo de Canterbury, Simon de Sudbury, o reitor da universidade convocou uma assembléia para discutir os ensinos de Wycliffe sobre a ceia, e esta assembléia o condenou por estreita margem de votos, em 1380. Mesmo assim, muitos em Oxford ainda o defendiam, e as autoridades não se atreviam a tomar atitudes contra ele. Durante vários meses ele esteve preso em sua casa, privado da liberdade, mas com permissão para continuar escrevendo seus livros, cada vez mais agressivos. Em 1381, a Revolta dos Camponeses na Inglaterra forçou a igreja e os nobres a cooperarem entre si na restauração da lei e da ordem. Embora Wycliffe não estivesse envolvido na rebelião, aqueles que se opunham a ele alegavam que a revolta fora resultado de seus ensinos. Aproveitando-se da situação, os líderes da igreja inglesa forçaram seus seguidores a saírem de Oxford.

Tradutor das Escrituras

Por causa das pressões de um velho inimigo, William Courtenay, que era bispo de Londres, Wycliffe se retirou para a igreja paroquial de Lutterworth, perto de Rugby, em 1382. Com o passar dos anos, ele foi dando cada vez mais ênfase na autoridade das Escrituras, em detrimento da autoridade do papa e das tradições eclesiásticas. Ele entendia que as Escrituras pertencem à igreja, e por isto devem ser interpretadas dentro dela e por ela. Para ele, as Escrituras contém tudo que é necessário para a salvação, sem qualquer necessidade de tradições adicionais.

Além disto, ele acreditava que o melhor caminho para prevalecer em sua luta contra a autoridade abusiva da igreja católica era tornar a Bíblia acessível às pessoas em sua própria língua. Desse modo, poderiam ler por si mesmas acerca da forma como cada uma poderia ter um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo – independente de qualquer autoridade eclesiástica. Como ele disse: “As palavras de Deus darão aos homens nova vida mais do que as outras palavras lidas por mero prazer. Oh, maravilhoso poder da Divina Semente que vence homens fortes e armados, amacia os corações duros e renova e transforma em homens piedosos aqueles que tinham sido brutalizados pelos pecados, e se afastaram infinitamente de Deus. Obviamente tal miraculoso poder nunca poderia ser operado pelo trabalho de um sacerdote, se o Espírito da Vida, e a Eterna Palavra, acima de qualquer outra coisa, não operassem”. Em 1382, atacou a autoridade do papa, dizendo num livro que Cristo e não o papa era o chefe da igreja. Afirmou que a Escritura e não a igreja era a autoridade única para o crente e que a igreja romana deveria se modelar segundo o padrão da igreja do Novo Testamento.

Em Lutterworth, Wycliffe e alguns de seus antigos alunos, completaram a tradução do Novo Testamento por volta de 1380 e o Antigo Testamento em 1382. Enquanto Wycliffe concentrava seus esforços no Novo Testamento, um de seus amigos, Nicolau de Hereford, trabalhava sob sua supervisão na tradução do Antigo Testamento. Wycliffe e seus companheiros, por não conhecerem o hebraico e o grego originais, traduziram o texto do latim para o inglês – usando a tradução latina de Jerônimo, escrita à mão a mais de 100 anos. Um dos amigos mais chegados de Wycliffe, John Purvey (c. 1353-1428), continuou a obra de Wycliffe, lançando, em 1388, uma revisão de sua tradução. Purvey era um erudito, e seu trabalho foi muito bem recebido por sua geração e pelas que se seguiram. Menos de um século depois, a edição revista de Purvey havia substituído a Bíblia inicial de Wycliffe. Eles foram os primeiros ingleses a traduzir toda a Bíblia do latim para o inglês.

Outros de seus escritos, além dos seus trabalhos sobre os problemas da Igreja e do Estado, incluíam tratados de lógica e metafísica e numerosos livros e sermões teológicos. Em um sermão intitulado “O amor de Jesus” ele expressa de forma comovente seu amor por Cristo, que o constrangeu a se lançar à obra de reforma da igreja.

Precursor da Reforma

E foi também por este amor que, em pouco tempo, o país se viu invadido pelos “lolardos”, ou “pregadores pobres”. Vários dos seus discípulos se dedicaram a divulgar suas doutrinas entre o povo, ainda durante a vida do mestre de Oxford. As doutrinas dos “lolardos” eram claras: A Bíblia deveria ser colocada à disposição do povo em seu próprio idioma. As distinções entre o clero e os leigos, com base no rito de ordenação eram contrárias às Escrituras. Clérigos injustos deveriam ser desobedecidos. A principal função dos ministros de Deus deveria ser pregar, e eles deveriam ser proibidos de ocupar cargos públicos, pois “ninguém pode servir a dois senhores”. Além disto o celibato de sacerdotes e monges era uma abominação que produzia imoralidade, aberrações sexuais, abortos e infanticídios. O culto às imagens, as peregrinações, as orações em favor dos mortos e a doutrina da transubstanciação eram pura magia e superstição.

Os “lolardos” incluíam estudantes da Universidade de Oxford, pequenos proprietários e muitos pobres das áreas rurais e urbanas. A igreja romana, através de uma declaração apoiada pelo Parlamento, em 1401, passou a perseguir e castigar com a pena de morte a pregação dos “lolardos”. Alguns estudiosos acham que esta perseguição foi eficaz na destruição do movimento até o fim do século XV. Outros argumentam que a influência deste grupo foi preservada em certos lugares e inspiraram a Reforma no século XVI. Mas a influência de Wycliffe foi muito mais forte na Europa continental. O casamento de Ricardo II, da Inglaterra, com Anne da Boêmia, firmou vínculos espirituais com a Boêmia (atual República Tcheca). Pela influência da rainha, os trabalhos de Wycliffe foram levados para a Boêmia, onde John Huss foi grandemente influenciado por eles. Suas idéias foram levadas para este país através de estudantes tchecos que estudavam na Universidade de Oxford (entre eles, Jerônimo de Praga), lançando os fundamentos dos ensinos de Huss. Através de sua influência na Boêmia, Wycliffe realmente foi um precursor da Reforma protestante.

Wycliffe continuou escrevendo até sua morte, no Natal de 1384, em conseqüência de um derrame cerebral. Já que faleceu estando em comunhão com a igreja, protegido da fúria da igreja por seus amigos ligados à nobreza, ele foi enterrado em terreno consagrado. Mas sua influência continuou tão forte que os ensinos de Wycliffe foram formalmente condenados, no concílio de Constança (1414-1418), trinta anos mais tarde. Ordens foram dadas para que seus escritos fossem destruídos, desenterraram seus ossos, queimaram-nos e lançaram suas cinzas no rio Swift. De qualquer maneira, as autoridades pensaram que, ao queimar seus restos mortais, eles poderiam apagar sua memória. Mas tais ações não poderiam parar a fome pela Palavra de Deus e pela verdade.

Como disse o historiador Thomas Fuller: “Eles queimara seus ossos até às cinzas / e as lançaram na correnteza, / um riacho próximo que corria velozmente. / Assim o riacho levou as cinzas para o Avon, / o Avon para o Severn; o Severn para os mares estreitos; / e eles para o oceano. E assim as cinzas de Wycliffe são o emblema da sua doutrina / que agora está espalhada para o mundo todo”. Uma grande organização evangélica missionária, fundada em 1942, recebeu seu nome, e, em cooperação com outros ministérios semelhantes, os tradutores da “Associação Wycliffe para Tradução da Bíblia” (Wycliffe Bible Translators) almejam traduzir a Bíblia para cada uma das 2.500 línguas restantes sobre a Terra que não têm as Sagradas Escrituras.

Autor: Franklin Ferreira.
Fonte: http://www.monergismo.com/textos/biografias/wycliffe_franklin.htm

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

William Tyndale: Sua Tradução da Bíblia e Seu Papel como Pré-Reformador na Igreja da Inglaterra

A chegada do protestantismo à Inglaterra está ligada às confusões amorosas do rei Henrique VIII. Após um casamento fracassado com Catarina de Aragão, filha dos reis católicos da Espanha (do qual nasceu Maria Tudor), na ânsia de ter um filho homem, ele veio a se casar outras cinco vezes, deixando como herdeiros Edward VI (filho de Jane Seymour) e Elizabeth I (filha de Ana Bolena). Em 1534, foi promulgado o Ato de Supremacia, tornando o rei a cabeça suprema da igreja da Inglaterra. Com a anulação do casamento com Catarina de Aragão, sobrinha de Carlos V, o rei Henrique VIII e o Parlamento inglês separaram a igreja da Inglaterra de Roma, em 1536.

Os livros de Lutero circulavam livremente nas universidades de Oxford e Cambridge. Muitos estudiosos ingleses leram Do cativeiro babilônico da igreja, uma crítica ao sistema sacramental da igreja de Roma. A princípio, Henrique VIII favoreceu a Reforma, mas depois, de 1539 a 1547, perseguiu os protestantes. O rei morreu doutrinariamente católico romano. A Reforma foi um retorno à Escritura. Martinho Lutero a traduziu para o alemão, e João Calvino apoiou a preparação de uma tradução francesa. Na Inglaterra, aconteceu algo bem semelhante.

O pai da Bíblia inglesa

William Tyndale nasceu em 1495, em Slymbridge, Inglaterra, perto da fronteira do País de Gales. Recebeu seu mestrado em 1515, pela Magdalen College, na Universidade de Oxford, onde havia estudado as Escrituras em grego e em hebraico. Ele também estudou em Cambridge, que estava tomada por idéias luteranas. Provavelmente Tyndale adquiriu suas convicções protestantes estudando lá. Ele foi ordenado ao sacerdócio em 1521. Mais tarde, expressou sua insatisfação com o ensino de teologia: "Nas universidades eles determinaram que nenhum homem olhasse para as Escrituras até que fosse embebido com aprendizagem pagã por oito ou nove anos, e armado com falsos princípios que claramente o impediam de compreender as Escrituras".

Tyndale tornou-se tutor da família de Sir John Walsh, em Little Sodbury Manor, ao norte de Bath. Enquanto estava morando nessa casa, ele ficou alarmado com a ignorância do clero local — muitos sacerdotes paroquiais da igreja católica, nos dias de Tyndale, eram tão corruptos que ficaram conhecidos como bêbados comuns, que recebiam regularmente prostitutas em suas igrejas! Até o cardeal Thomas Wolsey, o representante pessoal do papa na Inglaterra, viveu com uma companheira por vários anos e teve dois filhos, tendo-a passado, depois, para outro homem, com um dote!

Então, ao completar 30 anos, Tyndale já havia devotado sua vida à tarefa de traduzir a Bíblia das línguas originais para o inglês. O desejo de seu coração é ilustrado na declaração feita a um clérigo, enquanto refutava a concepção de que apenas o clero estava qualificado a ler e interpretar corretamente a Escritura: "Se Deus me conceder vida, não levará muitos anos e farei com que um rapaz que conduza um arado saiba mais das Escrituras do que vós". A única tradução da Escritura em inglês, naquele tempo, era a versão de John WyclifFe, disponível numa versão manuscrita e com várias imprecisões, que havia sido traduzida da Vulgata — a tradução em latim, feita por Jerônimo (347-420).

O fora-da-lei de Deus

Em 1523, Tyndale partiu para Londres em busca de um local para trabalhar em sua tradução. Quando se tornou óbvio que o bispo de Londres, o erudito Cuthbert Tunstall, que era amigo de Erasmo de Roterdã, não lhe daria hospitalidade, foi-lhe providenciado um lugar por Humphrey Monmouth, que era um rico negociante de tecidos. Segundo Tony Lane, "os bispos estavam mais preocupados em impedir a propagação das idéias de Lutero na Inglaterra do que em promover o estudo da Bíblia". Então, em 1524, Tyndale deixou a Inglaterra e foi para Hamburgo, na Alemanha, porque a igreja inglesa, que ainda estava sob autoridade papal, se opunha completamente a colocar a Bíblia nas mãos do povo. Ele disse que "não somente não havia lugar no palácio de meu senhor em Londres para traduzir o Novo Testamento, mas que também não havia lugar para fazê-lo por toda a Inglaterra".

Segundo Martin Lloyd-Jones, Tyndale tinha um ardente desejo de que o povo comum pudesse ler as Escrituras. Mas havia grandes obstáculos em seu caminho... Ele lançou uma tradução da Bíblia sem o endosso dos bispos [...]. Era inimaginável que tal coisa fosse feita sem o consentimento e o endosso dos bispos, como fez Tyndale. Outra ação de sua parte [...] foi que ele saiu da Inglaterra sem permissão real. Esse também era um ato bastante incomum, e altamente repreensível aos olhos das autoridades. No entanto, no anseio por traduzir as Escrituras, Tyndale deixou o país sem o consentimento do rei e foi para a Alemanha, onde, com a ajuda de Lutero e de outros colaboradores, completou sua grande obra. Essa atitude significava a colocação da verdade antes das questões de tradição e autoridade, e uma insistência na liberdade de servir a Deus da maneira como cada qual julga certa.

É muito provável que Tyndale, tão logo tenha chegado à Alemanha, se encontrou com Lutero, em Wittenberg. Mesmo que tal fato não houvesse ocorrido, ele tinha pleno conhecimento dos escritos de Lutero e da sua tradução do Novo Testamento (publicado em 1522). Tanto Lutero quanto Tyndale usaram o mesmo texto grego para fazer suas traduções: uma compilação feita por Erasmo, em 1516.

No início de 1525, o Novo Testamento estava pronto para impressão. E estava sendo impresso em Cologne, quando as autoridades atacaram de surpresa a gráfica. Tyndale conseguiu escapar a tempo, levando consigo algumas páginas impressas. Apenas um exemplar dessa edição incompleta sobrevive. O fato aconteceu numa época em que pelas leis da igreja católica na Inglaterra constituía crime passível de morte traduzir a Bíblia para o inglês — em 1519, as autoridades da igreja queimaram publicamente uma mulher e seis homens por nada mais do que ensinar aos seus filhos versões em inglês do Pai-Nosso, dos Dez Mandamentos e do Credo dos Apóstolos!

A tradução de Tyndale do Novo Testamento só foi completada em 1526, em Worms, na Alemanha. Quinze mil exemplares, em seis edições, foram contrabandeados para a Inglaterra, entre os anos de 1525 e 1530. As autoridades da igreja fizeram o que podiam para confiscar esses exemplares e queimá-los, mas não conseguiram conter o fluxo de Bíblias da Alemanha para a Inglaterra. O arcebispo William Warham de Canterbury comprou um grande número de exemplares do Novo Testamento, para destruí-los — ironicamente acabou financiando uma edição melhor e mais numerosa! Como disse John Foxe na época, "Deus abrira a máquina de impressão para pregar"!

Não podendo mais retornar para a Inglaterra, porque sua vida estava em perigo desde que a tradução fora proibida, Tyndale continuou a trabalhar no exterior, corrigindo, revisando e reeditando sua tradução, até que uma versão revista e definitiva foi publicada em 1535. Sua tradução tinha um estilo popular e era dirigida ao homem simples, tornando as Escrituras acessíveis a todos. Exemplares desse Novo Testamento, levados por mercadores à Escócia, contribuíram também para a promoção da fé evangélica naquele país.

Em 1534, Tyndale mudou-se para Antuérpia, na Bélgica, morando na residência de Thomas Poyntz, um mercador inglês, para completai a ttadução do Antigo Testamento. Mas, pouco depois, em maio de 1535, ele foi traído por um colega inglês, Henry Phillips, um mau-caráter, em Antuérpia. Assim, ele foi detido e levado para um castelo perto de Bruxelas, em Vilvoorde. Depois de estar na prisão por mais de um ano, foi julgado e condenado à morte. Em 6 de outubro de 1536, Tyndale foi estrangulado e queimado na fogueira. Suas palavras finais foram comoventes: "Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra".

Tyndale havia começado a trabalhar na tradução do Antigo Testamento, mas não viveu o suficiente para completar sua obra. Havia, entretanto, traduzido o Pentateuco, os livros históricos (até 2Crônicas) e Jonas. Esse homem simples, de origem comum, dominava sete idiomas: hebraico, grego, latim, italiano, espanhol, inglês e francês. Além disso, ele estava tão familiarizado com o alemão que era capaz de traduzir e interpretar até mesmo os pontos mais elaborados dos escritos de Lutero.

Enquanto Tyndale esteve preso, um dos seus colaboradores, Miles Coverdale, levou a cabo a tradução inteira da Bíblia para o inglês, baseada em grande parte na tradução do Novo Testamento e de outros livros do Antigo Testamento feita por Tyndale. O rei Henrique VIII proclamou: "Se não há heresias nele, que seja espalhado largamente entre todas as pessoas!". Por volta de 1539, requereu-se que cada igreja na Inglaterra tivesse disponível uma cópia da Bíblia em inglês. De forma irônica, Coverdale terminou o que Tyndale havia começado.

A tradução de Tyndale tem tido uma imensa influência, e pode-se dizer que todo o Novo Testamento em inglês, até este século, foi meramente uma revisão do Novo Testamento de Tyndale. Cerca de 90% das suas palavras passaram para a versão do rei Tiago, de 1611, e cerca de 75% para a Versão Revisada Padrão, de 1952. O impacto do trabalho de Tyndale se reflete nas palavras que Edward Fox, bispo de Hereford, dirigiu a seus colegas bispos: "Não vos exponhais ao ridículo do mundo; a luz brotou, e está melhor dispersando todas as nuvens. Os leigos conhecem as Escrituras melhor do que muitos de nós".

O apóstolo da Inglaterra

Tyndale escreveu várias obras, das quais as mais conhecidas são Parábola da riqueza exagerada — um tratado sobre a justificação pela fé somente, onde ele recorreu fortemente a Lutero, algumas vezes só traduzindo seus escritos —, e Obediência do homem cristão — sobre o dever de obedecer às autoridades civis, exceto quando a lealdade a Deus está envolvida —, ambas de 1528.

Thomas More atacou vigorosamente "o capitão dos hereges ingleses", referindo-se a Tyndale, que escreveu uma réplica a ele, Uma resposta ao diálogo de Sir Thomas More, de 1531, que é a melhor exposição de seu entendimento teológico. Pata More, a verdadeira igreja era a igreja católica romana, a qual ele considerava infalível. Qualquer um que se opusesse ao papa, a qualquer de seus representantes ou a alguma doutrina da igreja era, aos olhos de More, um herético. Por causa dessa crença, More mandou queimar muitos evangélicos na estaca.

Para Tyndale, "a verdadeira autoridade para a fé deveria ser encontrada na Escritura, e qualquer pessoa ou grupo que negasse a autoridade da Escritura estava, em sua percepção, sob o controle do anticristo". More e Tyndale eram incapazes de chegar a um acordo, por causa de suas diferentes perspectivas sobre a fé cristã.

Outras de suas obras foram: Uma exposição da primeira epístola de São João (1531), Uma exposição de Mateus 5 a 7 (1533) e Uma pequena declaração sobre os sacramentos (publicada postumamente, em 1548). O livro Um prólogo para a epístola de São Paulo aos Romanos apareceu pela primeira vez na edição de 1534 do Novo Testamento em inglês. Esse prólogo foi impresso em separado, em Worms, Alemanha, em 1526, apresentando muitos pontos de semelhança com o prefácio que Lutero também escreveu de Romanos. Mas Tyndale não foi um simples eco de Lutero:

"Visto que esta epístola é a principal e a mais excelente parte do Novo Testamento, e o mais puro Evangelion, quer dizer, boas-novas e aquilo que chamamos de Evangelho, como também luz e caminho, que penetra o conjunto da Escritura, creio que convém que todo cristão não somente a conheça de cor, mas também se exercite nela sempre e sem cessar, como se fosse o pão cotidiano da alma. Na verdade, ninguém pode lê-la demasiadas vezes nem estudá-la suficientemente bem. Sim, pois, quanto mais é estudada, mais fácil fica; quanto mais é meditada, mais agradável se torna, e quanto mais profundamente é pesquisada, mais coisas preciosas se encontram nela, tão grande é o tesouro de bens espirituais que nela jaz oculto."

Mais para o fim do prólogo, ele diz:

"Portanto, parece evidente que a intenção de Paulo era abranger resumidamente nesta epístola, de modo completo, todo o aprendizado do evangelho de Cristo, e preparar uma introdução ao Velho Testamento. Sim, pois, quem tem inteiramente no coração esta epístola, tem consigo a luz e a substância do Velho Testamento. Daí que todos os homens, sem exceção, se exercitem nela com diligência e a recordem noite e dia, até se familiarizarem com ela completamente [...]."

A fé é, então, uma confiança viva e firme no favor de Deus, por meio do qual nós nos entregamos completamente a ele. E essa confiança é tão seguramente estabelecida em nossos corações, que um homem não poderia duvidar dela, embora ele morresse mil vezes por isso. E tal confiança, operada pelo Espírito Santo através da fé, faz um homem contente, vigoroso, bem disposto e sincero para com Deus e para com as outras criaturas.

Assim, embora Tyndale não tenha vivido para ver o resultado daquilo que empreendeu, sua causa triunfou, bem como sua tradução.

Autor: Franklin Ferreira
Fonte: http://www.josemarbessa.com/2010/09/william-tyndale-1484-1536-nao-vivam.html