“... Uma só fé...” Ef 4:5
O Senhor Jesus
falou que edificaria sua igreja (não igrejas – Mt 16:18). Diante dessa
afirmação isolada, e sem levar em conta todo o desenvolvimento eclesiológico do
NT, a igreja católica equivocada e prepotentemente reivindica ser a tal, e
critica ferrenhamente o protestantismo devido as suas muitas denominações.
Dizem os
católicos: “há uma só fé” e sua confessionalidade é infalivelmente refletida na
“sagrada tradição e magistério católico” que atua a cerca de 2000 anos sem
nenhuma contradição ou discórdia interna/externa e que atualmente está registrada
no catecismo e no código de direito canônico. Já a igreja protestante, está
dividida em milhares de “seitas”, retrucam.
Bem, seria assim
mesmo? Será mesmo o catolicismo uma única entidade eclesiástica? O que diz a
história?
Sabemos a
princípio, que a palavra católica (o) significa universal. Porém, em qual
sentido devemos entender isto? A fé protestante não é universal também? Existe
apenas uma tradição católica? Por mais incrível que pareça, a resposta é não!
Semelhante ao protestantismo, o catolicismo também está dividido em mais de uma
denominação. Existem vídeos e documentos que provam isso. Veja por exemplo na
internet (http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Igrejas_cat%C3%B3licas_n%C3%A3o_em_comunh%C3%A3o_com_Roma).
Podemos citar
pelo menos 10 igrejas católicas diferentes (as mais “conhecidas”). São elas:
romana, ortodoxa, carismática¹, liberal, independente de tradição salomoniana,
anglo-luterana, anglo-católica², apostólica brasileira, conservadora do Brasil,
e vetero-católicas. Cada uma delas com diferenças de dogmas e liturgias. Ou
seja, não existe apenas uma igreja católica (universal). O que acontece é que a
igreja católica romana arroga para si o título de única igreja de Cristo na
terra. Sendo as demais na opinião dela, meras seitas. Até mesmo, as demais
igrejas de tradições católicas também.
De fato,
reconhecemos que a igreja católica romana junto com a católica ortodoxa são as
denominações cristãs mais antigas³. Todavia, alegar legitimidade por questão de
antiguidade é outra coisa bem diferente como afirmava o reformador João Calvino4.
Inclusive, as igrejas romanas (Ocidente) e ortodoxas (Oriente) afirmam ao mesmo
tempo que foram a 1ª igreja que existiu desde os tempos apostólicos, sendo simultaneamente (como pode?!) a igreja fundada por Jesus e
seus apóstolos (embora sejam bem diferentes da igreja primitiva no NT e até
mesmo diferentes uma da outra em cerca de 12 pontos).
Ora, que
autoridade tem a igreja católica romana para exigir o título de única igreja
quando além de não seguir o ensino apostólico inspirado, ainda é a grande
responsável pelas principais divisões no cristianismo? Isso mesmo, a culpa do
cristianismo ser tão dividido deve-se primeiramente a igreja católica romana
que sempre teve a pretensão de ser a mãe de todas as demais igrejas cristãs.
Historicamente,
a disputa se tornou ferrenha a partir do 5º século e estendeu-se até o 10º
quando até então as igrejas eram autônomas5. Em 1050 houve o 1º
racha oficial entre as igrejas do Oriente (ortodoxa) e Ocidente (romana) que
mutuamente se excomungaram. De lá para cá os cismas não pararam mais. Em 1517
houve a reforma protestante e nos últimos 500 anos lamentavelmente as
convenções eclesiásticas não tem chegado a um consenso com relação a todas as
questões de fé e consequentemente tem se unido em torno de denominações das
mais variadas tradições. Mas, tudo começou com a altivez da igreja católica
romana.
De acordo com os
teólogos mais qualificados das maiores tradições cristãs, devido a nossas
limitações e fraquezas pessoais, não tem sido possível reunificar o
cristianismo como uma só entidade ou denominação (assim pensavam os puritanos
por exemplo e o próprio catecismo católico admite isto após o 2º Concílio
Vaticano). Sendo assim, cabe-nos orar e nos esforçarmos para na medida
necessária, fazermos coro com aquelas denominações que tem como alvo e proposta
serem fiéis ao ensino da Bíblia Sagrada até que haja um só rebanho e um só
pastor (Jo 10:16).
De fato, há
uma só fé. Entretanto, esta fé é muito mais que mero dogmatismo ou
tradicionalismo religioso. É fé pessoal em Cristo e no seu ensino conforme
exposto tão claramente pelos apóstolos no NT6. E isto é algo que vai
além do credo ou tradição particular que alguma denominação por melhor que seja
possua (como bem diz o bispo Alexandre Ximenes da Igreja Episcopal Carismática7).
Ainda há
muitas denominações sadias com as quais podemos e até devemos professar a fé
que foi entregue ao povo de Cristo uma vez por todas (Jd 3). Lembrando sempre o
que foi dito pelo conceituado John Stott: “aquilo que nos une é maior do que o
que nos divide”. Até Calvino entendia que doutrinas periféricas não impediam a
unidade cristã.
O que não podemos
e não devemos é adotarmos uma atitude sectarista e fundamentalista igual a
igreja católica romana que indevidamente intitula-se sem nenhuma base bíblica
ou histórica como a única tradição cristã válida. Afinal de contas, a igreja de
Cristo (que não tem placa) nasceu8 no ano 33 (no pentecostes) e a
católica romana nasceu oficialmente 1017 anos depois, possuindo hoje várias
ramificações (embora que excomungadas da Santa Sé no Vaticano9).
Louvo a Deus
por movimentos evangélicos genuínos que lutam pela unidade cristã em nossa
Pátria, entendendo que “unidade é diferente de uniformidade”. Dentre estes,
cito a “Consciência Cristã” em Campina Grande/PB e a “Conferência Fiel” em São
Paulo. Pois, quem lê a Bíblia com atenção, sabe muito bem, que a Igreja de
Cristo é muito mais que uma mera organização, é na verdade, um organismo vivo
(Cl 1:24). Organismo esse tão dinâmico e multiforme, que historicamente vem se
organizando em várias denominações e não apenas em uma só.
Notas:
1. Diferente
da ala de renovação carismática dentro do romanismo. Trata-se de outra tradição
católica. No Brasil existe uma de característica neopentecostal, e que
apresenta um programa intitulado “Milagres do Divino Espírito Santo”. Além da
“Igreja Católica Carismática Brasileira”.
2. Pertencente
a grande comunhão anglicana onde existem igrejas de tradição protestante
também.
3. O
termo católico foi usado pela primeira vez por Inácio de Antioquia no início do
2º século em sua carta aos esmirniotas.
4. Vale
a pena conferir no livro 4 das suas famosas Institutas.
5. Nos
primeiros séculos havia 5 patriarcados que juntos regiam as igrejas (Jerusalém,
Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Roma).
6. Também
no AT interpretando-o á luz do próprio NT.
7. Veja
vídeo “Afinal, o que é igreja?” no you tube.
8. Nossa
Confissão de Fé ensina que a Igreja já existia no AT, porém em forma
embrionária (Cp 22, II).
9. Recentemente
foi cogitada mais uma vez a reunificação do catolicismo romano e ortodoxo.
Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/PB – AIECB)
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