sábado, 23 de maio de 2015

A Falácia da Unidade Católica



“... Uma só fé...” Ef 4:5
O Senhor Jesus falou que edificaria sua igreja (não igrejas – Mt 16:18). Diante dessa afirmação isolada, e sem levar em conta todo o desenvolvimento eclesiológico do NT, a igreja católica equivocada e prepotentemente reivindica ser a tal, e critica ferrenhamente o protestantismo devido as suas muitas denominações.
Dizem os católicos: “há uma só fé” e sua confessionalidade é infalivelmente refletida na “sagrada tradição e magistério católico” que atua a cerca de 2000 anos sem nenhuma contradição ou discórdia interna/externa e que atualmente está registrada no catecismo e no código de direito canônico. Já a igreja protestante, está dividida em milhares de “seitas”, retrucam.
Bem, seria assim mesmo? Será mesmo o catolicismo uma única entidade eclesiástica? O que diz a história?
Sabemos a princípio, que a palavra católica (o) significa universal. Porém, em qual sentido devemos entender isto? A fé protestante não é universal também? Existe apenas uma tradição católica? Por mais incrível que pareça, a resposta é não! Semelhante ao protestantismo, o catolicismo também está dividido em mais de uma denominação. Existem vídeos e documentos que provam isso. Veja por exemplo na internet (http://pt.wikipedia.org/wiki/Categoria:Igrejas_cat%C3%B3licas_n%C3%A3o_em_comunh%C3%A3o_com_Roma).
Podemos citar pelo menos 10 igrejas católicas diferentes (as mais “conhecidas”). São elas: romana, ortodoxa, carismática¹, liberal, independente de tradição salomoniana, anglo-luterana, anglo-católica², apostólica brasileira, conservadora do Brasil, e vetero-católicas. Cada uma delas com diferenças de dogmas e liturgias. Ou seja, não existe apenas uma igreja católica (universal). O que acontece é que a igreja católica romana arroga para si o título de única igreja de Cristo na terra. Sendo as demais na opinião dela, meras seitas. Até mesmo, as demais igrejas de tradições católicas também.
De fato, reconhecemos que a igreja católica romana junto com a católica ortodoxa são as denominações cristãs mais antigas³. Todavia, alegar legitimidade por questão de antiguidade é outra coisa bem diferente como afirmava o reformador João Calvino4. Inclusive, as igrejas romanas (Ocidente) e ortodoxas (Oriente) afirmam ao mesmo tempo que foram a 1ª igreja que existiu desde os tempos apostólicos, sendo simultaneamente (como pode?!) a igreja fundada por Jesus e seus apóstolos (embora sejam bem diferentes da igreja primitiva no NT e até mesmo diferentes uma da outra em cerca de 12 pontos).
Ora, que autoridade tem a igreja católica romana para exigir o título de única igreja quando além de não seguir o ensino apostólico inspirado, ainda é a grande responsável pelas principais divisões no cristianismo? Isso mesmo, a culpa do cristianismo ser tão dividido deve-se primeiramente a igreja católica romana que sempre teve a pretensão de ser a mãe de todas as demais igrejas cristãs.
Historicamente, a disputa se tornou ferrenha a partir do 5º século e estendeu-se até o 10º quando até então as igrejas eram autônomas5. Em 1050 houve o 1º racha oficial entre as igrejas do Oriente (ortodoxa) e Ocidente (romana) que mutuamente se excomungaram. De lá para cá os cismas não pararam mais. Em 1517 houve a reforma protestante e nos últimos 500 anos lamentavelmente as convenções eclesiásticas não tem chegado a um consenso com relação a todas as questões de fé e consequentemente tem se unido em torno de denominações das mais variadas tradições. Mas, tudo começou com a altivez da igreja católica romana.
De acordo com os teólogos mais qualificados das maiores tradições cristãs, devido a nossas limitações e fraquezas pessoais, não tem sido possível reunificar o cristianismo como uma só entidade ou denominação (assim pensavam os puritanos por exemplo e o próprio catecismo católico admite isto após o 2º Concílio Vaticano). Sendo assim, cabe-nos orar e nos esforçarmos para na medida necessária, fazermos coro com aquelas denominações que tem como alvo e proposta serem fiéis ao ensino da Bíblia Sagrada até que haja um só rebanho e um só pastor (Jo 10:16).
De fato, há uma só fé. Entretanto, esta fé é muito mais que mero dogmatismo ou tradicionalismo religioso. É fé pessoal em Cristo e no seu ensino conforme exposto tão claramente pelos apóstolos no NT6. E isto é algo que vai além do credo ou tradição particular que alguma denominação por melhor que seja possua (como bem diz o bispo Alexandre Ximenes da Igreja Episcopal Carismática7).
Ainda há muitas denominações sadias com as quais podemos e até devemos professar a fé que foi entregue ao povo de Cristo uma vez por todas (Jd 3). Lembrando sempre o que foi dito pelo conceituado John Stott: “aquilo que nos une é maior do que o que nos divide”. Até Calvino entendia que doutrinas periféricas não impediam a unidade cristã.
O que não podemos e não devemos é adotarmos uma atitude sectarista e fundamentalista igual a igreja católica romana que indevidamente intitula-se sem nenhuma base bíblica ou histórica como a única tradição cristã válida. Afinal de contas, a igreja de Cristo (que não tem placa) nasceu8 no ano 33 (no pentecostes) e a católica romana nasceu oficialmente 1017 anos depois, possuindo hoje várias ramificações (embora que excomungadas da Santa Sé no Vaticano9).
Louvo a Deus por movimentos evangélicos genuínos que lutam pela unidade cristã em nossa Pátria, entendendo que “unidade é diferente de uniformidade”. Dentre estes, cito a “Consciência Cristã” em Campina Grande/PB e a “Conferência Fiel” em São Paulo. Pois, quem lê a Bíblia com atenção, sabe muito bem, que a Igreja de Cristo é muito mais que uma mera organização, é na verdade, um organismo vivo (Cl 1:24). Organismo esse tão dinâmico e multiforme, que historicamente vem se organizando em várias denominações e não apenas em uma só.
Notas:
1.       Diferente da ala de renovação carismática dentro do romanismo. Trata-se de outra tradição católica. No Brasil existe uma de característica neopentecostal, e que apresenta um programa intitulado “Milagres do Divino Espírito Santo”. Além da “Igreja Católica Carismática Brasileira”.
2.       Pertencente a grande comunhão anglicana onde existem igrejas de tradição protestante também.
3.       O termo católico foi usado pela primeira vez por Inácio de Antioquia no início do 2º século em sua carta aos esmirniotas.
4.       Vale a pena conferir no livro 4 das suas famosas Institutas.
5.       Nos primeiros séculos havia 5 patriarcados que juntos regiam as igrejas (Jerusalém, Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Roma).
6.       Também no AT interpretando-o á luz do próprio NT.
7.       Veja vídeo “Afinal, o que é igreja?” no you tube.
8.       Nossa Confissão de Fé ensina que a Igreja já existia no AT, porém em forma embrionária (Cp 22, II).
9.       Recentemente foi cogitada mais uma vez a reunificação do catolicismo romano e ortodoxo.

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/PB – AIECB)

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