terça-feira, 26 de maio de 2015

A Falta de Tolerância Religiosa e o Pecado do Cisma

"E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste - João 17:21".

No final de seu ministério terreno, o Senhor Jesus orou a Deus o Pai, para que seus discípulos vivessem em plena unidade assim como se relacionam harmonicamente as pessoas da própria Divindade (Santíssima Trindade). De acordo com Ele, esse fator seria fundamental para a credibilidade da doutrina cristã, o Solus Christus!

Como ponto de partida, queremos deixar bem claro que estamos falando de unidade e não de uniformidade (o que aliás, já tratamos em outro artigo deste blog). Sabemos que existem vários tipos de cristãos, os verdadeiros e os falsos (Mt 7:21). Portanto, falar de unidade cristã, não significa necessariamente que iremos andar de mãos dadas com todo tipo de "cristão" que por sinal, acredita e exalta mais a qualquer outra coisa do que o próprio Cristo. Hoje em dia, existem muitos desses tipos de "cristãos". Porém, o negócio do cristão é com Cristo e Sua glória e ponto final. Nada mais, nada menos! O verdadeiro cristão vive em função de cristo somente (Fp 1:21).

Por outro lado, quem conhece a Bíblia sabe muito bem, que Deus sempre desejou a união do seu povo, tanto no AT como no NT (Sl 133:1 /Ef 4:5, etc). Isto é, tanto antes da encarnação do Cristo como depois dela. Todavia, ao longo dos séculos, a postura prática do próprio povo eleito (seja Israel, ou seja a Igreja) foi o contrário desse anelo divino. Desde o Gênesis que vemos brigas, disputas e até mortes em nome de Deus. Já vimos de tudo nesse sentido (infelizmente): patriarca contra patriarca, reis contra reis, profetas contra profetas, discípulos contra discípulos, cristãos contra cristãos, pastores contra pastores, igrejas contra igrejas e assim por diante. E isso engloba os judeus, os católicos e principalmente os evangélicos. 

O interessante é que, todos os que promovem divisões no Reino de Deus, alegam agir sob restrita obediência a Revelação e propósitos Divinos. Geralmente, reivindicam agirem de acordo com uma "iluminação" que outros não possuem (ou contra a qual se opõem), e que portanto, os definem como os verdadeiros servos de Deus e únicas pessoas legitimamente espirituais e ortodoxas. O falecido David Miranda da "Igreja Deus é Amor" foi um exemplo vivo disso!

Via de regra, os cismáticos consideram-se o povo exclusivo de Deus, ou no mínimo a nata deste povo! Mas, trata-se na verdade, de buscarem uma "fidelidade" extremada em nome da "ortodoxia" (doutrina, revelação ou tradição religiosa correta) em detrimento da caridade e fraternidade com relação aos menos esclarecidos da comunidade escolhida pelo próprio Deus. Estaria isso correto? Devemos mesmo em nome de Deus "excluir" aqueles que julgamos menos crentes ou espirituais do que nós? É certo dividirmos o Reino de Deus no mundo levando em conta nossas conveniências e intolerância religiosa? Se sim, que continuemos dividindo cada vez mais ao invés de somarmos ou multiplicarmos e se não, que paremos com tudo isso! Particularmente, penso que não fomos chamados para subtrair ou dividir o Reino.

Como falamos acima, muitos dos que promovem divisões na igreja se julgam super-espirituais e ortodoxos. E portanto, se acham no direito de incluir e excluir aqueles que quiserem, de acordo com os seus ditames e preferências "espirituais". E isto não é novidade alguma por incrível que pareça. No entanto, seria essa a definição e postura bíblica? O apóstolo Paulo ainda no 1º século da era cristã, escreveu o seguinte para os cristãos de Coríntio: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer. Porque a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloé que há contendas entre vós. Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido? foi Paulo crucificado por vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? 1 Co 1:10-13." Ou seja, não é correto dividirmos o reino de Deus de acordo com o nosso bel prazer ou falta de tolerância! Tal atitude ao invés de constituir-se em algo de natureza espiritual, é na verdade, resultado de pura carnalidade. Assim esclarece Paulo nesta mesma carta: "E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis. Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais?1 Co 3:1-4".

Engraçado, é que os cismáticos se vêem como espirituais e "iluminados", adultos nas coisas sagradas. Entretanto, Paulo os chama de meninos e carnais, e de fato o são! Não conheço um cismático que não o seja, não passam de radicais da fé e pseudo-intelectuais religiosos. Pensam que compreenderam tudo e na verdade, ainda nem começaram a compreender, são crianças nas coisas espirituais. Assim disse Paulo pelo Espírito e assim de fato vemos no dia-a-dia e ao longo da história sagrada. Lembro-me de um colega de seminário que cansado com tanta confusão em sala de aula e nas igrejas, expressou o desejo de fazer sua monografia com a temática "A Guerra dos Santos". De acordo com ele, essa guerra começou nos céus com a rebelião de Lúcifer e só terminará no Julgamento Final. Gostaria que não fosse verdade, mas, parece-me, que ele estava certíssimo. Pois, a cada dia que passa, mais divisores do Reino de Deus surgem. Há os que priorizam os "dons espirituais", a placa denominacional, os usos e costumes do seu grupo, a hinologia, a homília, a tradição "x", a hermenêutica "y", a logomarca da sua comunidade, a personalização do seu ministério, etc. E assim, vão se proliferando as comunidades eclesiais pelo mundo afora em detrimento do explícito mandamento divino e da caridade cristã. Devemos por um fim em toda essa lastimável realidade!

Sem dúvida, unidade não é sinônimo de uniformidade. Viver em união não significa 100% de concordância! Porém, não devemos abusar deste fato, para provocar cismas na Igreja. Devemos sim, administrar nossas diferenças e lutar pela unidade em resposta ao apelo divino. Entendendo sempre que "aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos divide ou pode nos dividir ainda mais". Ou seja, é nosso dever consertar os erros do passado, na busca pela unidade cristã num diálogo ecumênico saudável. O que não significa que deixará de haver certas "divisões" no meio cristão ainda, mas que, ao menos tais 'divisões" seriam amenizadas por meio de uma confessionalidade bíblica quanto as doutrinas centrais e o estímulo mútuo do amor fraternal entre as legítimas tradições cristãs. Onde o ósculo santo falasse bem mais alto que qualquer dogma ou vaidade humana. Afinal de contas, não somos nem de Paulo nem de Pedro nem de Apolo nem de Ambrósio nem Agostinho nem de Lutero nem de Calvino ou Armínio, somos de Cristo se de fato somos cristãos. 

No livro 4 das suas famosas institutas, o reformador João Calvino chegou a dizer que quem promove cismas na igreja corre o sério risco de ser despedaçado pelos raios da ira divina. Acham isso uma declaração exagerada? Não, não é não! Cisma e intolerância religiosa são pecados graves aos olhos de Deus e fator de descrença para o mundo pagão e secular.

Solus Christus!!! Cristo por todos e todos por Cristo. Amém.

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/PB)

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