"porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas
Escrituras se estas coisas eram assim.” (Atos 17:11b).
Este artigo
não visa fazer uma apologia ao calvinismo em si. Mas, sim, enaltecer um dos
princípios fundamentais da Reforma Protestante, o Sola Scriptura (Somente a
Escritura).
Há algum tempo
atrás, li um livreto do padre Vicente Wrozz, intitulado: Respostas da Bíblia às
acusações dos “crentes” contra a Igreja Católica. E dentre as questões
abordadas, houve uma que me chamou bastante à atenção. A saber, a oitava
questão de seu pequeno livro que questiona sobre a liberdade individual do
cristão na interpretação da Bíblia. Liberdade essa, tanto proclamada por todos
nós protestantes.
Eis sua
resposta: “O triste resultado da livre interpretação da Bíblia é a divisão em
milhares de seitas”. Teria ele razão? Será que o exame livre das Sagradas
Escrituras tem como resultado a geração de seitas e heresias?
Ao discorrer
um pouco mais sobre sua pobre tese o padre faz questão de alegar que a Bíblia
por si mesma não é autoridade suficiente para questões de fé e prática. Segundo
ele, é necessário a Tradição Eclesiástica e o “Santo Magistério”. Argumenta ele
ainda que a autoridade dos livros canônicos repousa sobre a infalibilidade
papal que decretou no terceiro século a divina inspiração das Escrituras
Sagradas (pg.37) em sua forma final e atual (nas suas contas possuindo 73
livros ao invés de 66).
Ora, não
duvidamos que no decorrer da história a tradição eclesiástica e o magistério
sagrado tenham tido grande relevância quanto ao valor e significado da Bíblia.
Porém, assim como nossos irmãos da Reforma, advogamos que ambos estão abaixo da
autoridade da própria Bíblia e não ao contrário. Tese essa que o catolicismo
rejeita veementemente até os nossos dias colocando sempre a Tradição acima da
Palavra de Deus escrita.
A Bíblia não é
inspirada porque o papado ou qualquer concílio assim o determinou, mas, ela o
é, segundo sua própria natureza e testemunho quando diz: “Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para
corrigir, para instruir em justiça (2 Tm 3:16)”. E também: “Porque a profecia
nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo (2 Pe 1:21)”.
Particularmente,
entendo que o cristianismo é uma religião confessional. É de suma importância à
elaboração de credos e confissões a fim de preservar e propagar a sadia
interpretação bíblica. Todavia, esse confessionalismo não visa engessar a
interpretação pessoal de quem quer que seja, antes, dá evasão a qualquer
cristão de verificar por si mesmo o que a Bíblia diz em suas questões
fundamentais a luz da interpretação geral de todo o mundo cristão. E é
exatamente aqui, onde triunfa a hermenêutica protestante. Pois, muito diferente
do que alega o padre Wrozz e toda a ala “católica”, os quase 500 anos de
Reforma Protestante¹, dão provas suficientes de que, embora em questões
secundárias da fé cristã tenhamos algumas divergências, contudo, somos do mesmo
parecer com relação aos pontos essenciais da doutrina neotestamentária que
segundo o famoso teólogo John Stott é a verdadeira “sucessão apostólica”.
Ou seja, o
cristianismo reformado apenas prega que todo cristão é livre para examinar os
escritos inspirados dos apóstolos no NT e dizer amém para eles, assim como
fizeram os crentes de Beréia diante do próprio apóstolo Paulo. Interessante é
que este mesmo apóstolo, afirmou aos cristãos da Galácia que eles não apenas
podiam fazer isso, mas na verdade deveriam fazê-lo, mesmo que ele ou outro
apóstolo ou até mesmo um anjo viesse anunciando outra doutrina (Gl
1:8,9).
O problema de
muitos protestantes hoje não é interpretar a Bíblia por si mesmos, mas,
exatamente o contrário. O próprio protestantismo moderno precisa de uma nova
reforma no sentido de rever seus princípios originais e sua aplicabilidade na
devoção pública e particular. Poucos conhecem na teoria ou na prática os lemas
da Reforma como: Sola Gratia, Solus Christus, Sole Deo Gloria, etc. Aliás, se
nossa fé e prática cristã, não tiver apoio bíblico, não vale, é puro fanatismo
e heresia. Nesse sentido, precisamos rever muita coisa com relação ao
evangelismo, a adoração, ao discipulado, etc. Mas, isto é assunto para outra
hora.
Sabemos, é
verdade, que muitas seitas têm surgido no meio do protestantismo. O evangelho
da prosperidade e do triunfalismo que sufocam a mensagem da cruz é uma triste
realidade. Entretanto, tais heresias constituem-se uma pequena parcela no corpo
do cristianismo reformado. Pior que elas, é o próprio catolicismo romano que
não só sufoca a mensagem da cruz com seus dogmas heréticos, mas, vai além ao
ponto de anula-la com suas abomináveis missas eucarísticas.
Inclusive,
muitos protestantes atuais nem sequer imaginam que o maior problema da Igreja
Católica Apostólica Romana não é a iconolatria (veneração de
imagens=idolatria), mas sim, o sacramento da “santa missa” onde segundo sua
hermenêutica (interpretação), o sacrifício de Cristo é repetido diariamente.
Absurdo!
Prefiro uma
hermenêutica que pregue uma expiação suficiente e completa como o faz a Reforma
do que uma hermenêutica que ensine um tão grande sacrilégio como o faz o
catolicismo em suas missas abomináveis.
Particularmente,
prefiro não depender da hermenêutica católica para interpretar Hebreus 9:28,
que diz claramente: “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os
pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para
salvação”. De acordo com a hermenêutica católica, que esperança ou segurança
há, para os que confiam na Missa ao invés de confiarem pessoalmente no Cristo
morto e ressurreto? Segundo a teologia católica sem a missa ninguém pode ser
salvo e isso num processo paulatino passando inclusive pelo purgatório. Segundo
a teologia bíblica e verdadeiramente apostólica, ninguém pode ser salvo a não
ser através de Cristo que nos é oferecido diretamente nas Escrituras e recebido
instantânea e integralmente pela fé somente (Jo 7:38; At 4:12; Rm 5:1).
Depender de uma
hermenêutica “correta” extra bíblica como a católica, que prega a salvação
pelas obras misturadas com sacramentos, além de tantas outras discrepâncias
doutrinárias não é sinal de segurança como afirma o padre em seu livrete. Pelo
contrário, é sinal de perigo eminente e eterno.
Graças a Deus
pela Reforma Protestante! Graças a Deus pelo resgate do Sola Scriptura (At
17:11b) e das grandes doutrinas apostólicas como a justificação pela fé (Rm
5:1). Que a Bíblia Sagrada, a Santa e Inerrante Palavra de Deus, continue sendo
nossa única regra de fé e prática cristã por mais 500 anos, se Nosso Senhor
Jesus não voltar antes. Sola Scriptura sempre!
Nota: 1. Literalmente, são 497 anos de Reforma
Protestante.
Referências Bibliográficas:
Wrosz, Vicente. Respostas da Bíblia às acusações dos “crentes”
contra a Igreja Católica. Ed.Pe.Reus.
Confissão de Heidelberg, P.80. Qual é a diferença entre a Ceia do
Senhor e a missa do papa?
Almeida, João Ferreira de. Bíblia Sagrada Revista e Atualizada.
Ed.SBB.
STOTT, John. A Mensagem aos Efésios. Ed.ABU. Pgs 73.
Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/PB
- AIECB)
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