sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Triunfo da Hermenêutica Reformada




"porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (Atos 17:11b).
Este artigo não visa fazer uma apologia ao calvinismo em si. Mas, sim, enaltecer um dos princípios fundamentais da Reforma Protestante, o Sola Scriptura (Somente a Escritura). 
Há algum tempo atrás, li um livreto do padre Vicente Wrozz, intitulado: Respostas da Bíblia às acusações dos “crentes” contra a Igreja Católica. E dentre as questões abordadas, houve uma que me chamou bastante à atenção. A saber, a oitava questão de seu pequeno livro que questiona sobre a liberdade individual do cristão na interpretação da Bíblia. Liberdade essa, tanto proclamada por todos nós protestantes.
Eis sua resposta: “O triste resultado da livre interpretação da Bíblia é a divisão em milhares de seitas”. Teria ele razão? Será que o exame livre das Sagradas Escrituras tem como resultado a geração de seitas e heresias? 
Ao discorrer um pouco mais sobre sua pobre tese o padre faz questão de alegar que a Bíblia por si mesma não é autoridade suficiente para questões de fé e prática. Segundo ele, é necessário a Tradição Eclesiástica e o “Santo Magistério”. Argumenta ele ainda que a autoridade dos livros canônicos repousa sobre a infalibilidade papal que decretou no terceiro século a divina inspiração das Escrituras Sagradas (pg.37) em sua forma final e atual (nas suas contas possuindo 73 livros ao invés de 66). 
Ora, não duvidamos que no decorrer da história a tradição eclesiástica e o magistério sagrado tenham tido grande relevância quanto ao valor e significado da Bíblia. Porém, assim como nossos irmãos da Reforma, advogamos que ambos estão abaixo da autoridade da própria Bíblia e não ao contrário. Tese essa que o catolicismo rejeita veementemente até os nossos dias colocando sempre a Tradição acima da Palavra de Deus escrita. 
A Bíblia não é inspirada porque o papado ou qualquer concílio assim o determinou, mas, ela o é, segundo sua própria natureza e testemunho quando diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça (2 Tm 3:16)”. E também: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (2 Pe 1:21)”. 
Particularmente, entendo que o cristianismo é uma religião confessional. É de suma importância à elaboração de credos e confissões a fim de preservar e propagar a sadia interpretação bíblica. Todavia, esse confessionalismo não visa engessar a interpretação pessoal de quem quer que seja, antes, dá evasão a qualquer cristão de verificar por si mesmo o que a Bíblia diz em suas questões fundamentais a luz da interpretação geral de todo o mundo cristão. E é exatamente aqui, onde triunfa a hermenêutica protestante. Pois, muito diferente do que alega o padre Wrozz e toda a ala “católica”, os quase 500 anos de Reforma Protestante¹, dão provas suficientes de que, embora em questões secundárias da fé cristã tenhamos algumas divergências, contudo, somos do mesmo parecer com relação aos pontos essenciais da doutrina neotestamentária que segundo o famoso teólogo John Stott é a verdadeira “sucessão apostólica”. 
Ou seja, o cristianismo reformado apenas prega que todo cristão é livre para examinar os escritos inspirados dos apóstolos no NT e dizer amém para eles, assim como fizeram os crentes de Beréia diante do próprio apóstolo Paulo. Interessante é que este mesmo apóstolo, afirmou aos cristãos da Galácia que eles não apenas podiam fazer isso, mas na verdade deveriam fazê-lo, mesmo que ele ou outro apóstolo ou até mesmo um anjo viesse anunciando outra doutrina (Gl 1:8,9). 
O problema de muitos protestantes hoje não é interpretar a Bíblia por si mesmos, mas, exatamente o contrário. O próprio protestantismo moderno precisa de uma nova reforma no sentido de rever seus princípios originais e sua aplicabilidade na devoção pública e particular. Poucos conhecem na teoria ou na prática os lemas da Reforma como: Sola Gratia, Solus Christus, Sole Deo Gloria, etc. Aliás, se nossa fé e prática cristã, não tiver apoio bíblico, não vale, é puro fanatismo e heresia. Nesse sentido, precisamos rever muita coisa com relação ao evangelismo, a adoração, ao discipulado, etc. Mas, isto é assunto para outra hora. 
Sabemos, é verdade, que muitas seitas têm surgido no meio do protestantismo. O evangelho da prosperidade e do triunfalismo que sufocam a mensagem da cruz é uma triste realidade. Entretanto, tais heresias constituem-se uma pequena parcela no corpo do cristianismo reformado. Pior que elas, é o próprio catolicismo romano que não só sufoca a mensagem da cruz com seus dogmas heréticos, mas, vai além ao ponto de anula-la com suas abomináveis missas eucarísticas.
Inclusive, muitos protestantes atuais nem sequer imaginam que o maior problema da Igreja Católica Apostólica Romana não é a iconolatria (veneração de imagens=idolatria), mas sim, o sacramento da “santa missa” onde segundo sua hermenêutica (interpretação), o sacrifício de Cristo é repetido diariamente. Absurdo! 
Prefiro uma hermenêutica que pregue uma expiação suficiente e completa como o faz a Reforma do que uma hermenêutica que ensine um tão grande sacrilégio como o faz o catolicismo em suas missas abomináveis. 
Particularmente, prefiro não depender da hermenêutica católica para interpretar Hebreus 9:28, que diz claramente: “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação”. De acordo com a hermenêutica católica, que esperança ou segurança há, para os que confiam na Missa ao invés de confiarem pessoalmente no Cristo morto e ressurreto? Segundo a teologia católica sem a missa ninguém pode ser salvo e isso num processo paulatino passando inclusive pelo purgatório. Segundo a teologia bíblica e verdadeiramente apostólica, ninguém pode ser salvo a não ser através de Cristo que nos é oferecido diretamente nas Escrituras e recebido instantânea e integralmente pela fé somente (Jo 7:38; At 4:12; Rm 5:1).
Depender de uma hermenêutica “correta” extra bíblica como a católica, que prega a salvação pelas obras misturadas com sacramentos, além de tantas outras discrepâncias doutrinárias não é sinal de segurança como afirma o padre em seu livrete. Pelo contrário, é sinal de perigo eminente e eterno.
Graças a Deus pela Reforma Protestante! Graças a Deus pelo resgate do Sola Scriptura (At 17:11b) e das grandes doutrinas apostólicas como a justificação pela fé (Rm 5:1). Que a Bíblia Sagrada, a Santa e Inerrante Palavra de Deus, continue sendo nossa única regra de fé e prática cristã por mais 500 anos, se Nosso Senhor Jesus não voltar antes. Sola Scriptura sempre! 

Nota: 1. Literalmente, são 497 anos de Reforma Protestante. 
Referências Bibliográficas
Wrosz, Vicente. Respostas da Bíblia às acusações dos “crentes” contra a Igreja Católica. Ed.Pe.Reus. 
Confissão de Heidelberg, P.80. Qual é a diferença entre a Ceia do Senhor e a missa do papa? 
Almeida, João Ferreira de. Bíblia Sagrada Revista e Atualizada. Ed.SBB. 
STOTT, John. A Mensagem aos Efésios. Ed.ABU. Pgs 73. 

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Evangélica Congregacional de João Pessoa/PB - AIECB)

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