sábado, 6 de dezembro de 2014

A Dívida do Protestantismo Brasileiro para com os Congregacionais

O protestantismo nacional tem uma dívida de honra muito grande para com o congregacionalismo brasileiro. Uma vez que, após várias tentativas frustradas de implantação do cristianismo reformado em nossa pátria (por calvinistas franceses e holandeses), aprouve a Deus, dar êxito ao trabalho missionário do até então desconhecido Robert Red Kalley que mais tarde ficaria conhecido como o "lobo calvinista". De forma que, uma vez usado por Deus para tal finalidade, as portas para o genuíno evangelho em solo brasileiro se abriram para as demais denominações e grupos evangélicos (que hoje inclusive, possuem maior expressão no Brasil, que o próprio congregacionalismo). 
Robert Reid Kalley (18091888) foi um médico e pastor escocês. O sonho de Kalley era tornar-se missionário na China, mas, considerando a frágil saúde da sua primeira esposa Margaret, os colegas lhe sugeriram a ilha da Madeira, onde foi ordenado ao ministério pastoral. Os Kalley tornaram-se figuras históricas do protestantismo em Portugal e no Brasil. Depois que sua primeira esposa falecera em 1851, Kalley casou-se no ano seguinte com Sarah Poulton. Os Kalley ficariam no Brasil por 21 anos, atuando como missionários e cuidando de enfermos.
Apesar de ter sido batizado na Igreja da Escócia, Kalley não possuía vínculos com nenhuma denominação. Ao estabelecer igrejas no Brasil, Kalley que desde Portugal se afastara da tradição reformada rígida em matéria de organização eclesiástica, introduziu, quanto à forma de governo como tinha feito na Ilha da Madeira, uma estrutura congregacionalista, onde cada igreja local é independente e autônoma. Era dessa forma que Kalley definia a si mesmo: um ministro cristão, sem restrições denominacionais. As igrejas fundadas por Kalley não tinham qualquer vínculo pelo qual pudesse se estabelecer uma continuidade histórica em relação a qualquer tradição denominacional até então existente. Eram igrejas com uma identidade própria, peculiar.
Dessa forma, Kalley foi aquele que conseguiu plantar o Cristianismo Evangélico de forma definitiva no Brasil. Seu trabalho influenciou outros missionários (presbiterianos, batistas, etc) a trabalharem no Brasil, contribuindo para a construção do protestantismo no país, onde hoje conta com aproximadamente 40 milhões de adeptos.
O casal Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, chegaram à cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, em 1855. Instalaram a primeira classe de Escola Dominical, contando com 5 crianças, onde foi contada a história do profeta Jonas. Em 1858, Kalley organizou a 1ª igreja evangélica de regime congregacionalista no Brasil: A Igreja Evangélica Fluminense. Cinco anos mais tarde, fundariam a Igreja Evangélica Pernambucana (1863).
Kalley deixou um grande legado não só para as igrejas que se originaram de seu ministério, mas também para todo o Protestantismo brasileiro. Através de sua luta, em um período onde não havia liberdade religiosa, alcançou conquistas substanciais que passaram a constituir um legado para todos os brasileiros acatólicos e para a história do direito civil brasileiro. O casamento civil, a utilização de cemitérios públicos e o registro dos filhos de pessoas não-católicas foram conquistas que realçaram a liberdade religiosa brasileira até os dias de hoje. Deixou também uma hinologia básica para várias denominações comporem os seus hinários. Bem como uma súmula teológica conhecida como “os 28 Artigos das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo” que serviu de base para o congregacionalismo brasileiro e outras denominações históricas e reformadas.
Assim sendo, o protestantismo brasileiro moderno, possui uma dívida de honra muito grande para com este casal e a tradição cristã (evangélica) a qual implantaram em nossa Pátria com a ajuda de Deus. Caso contrário, talvez, ainda hoje tivéssemos lutando por direitos civis e religiosos contra toda a tradição católica. Deus usou os Kalleys para conseguir junto ao imperador D.Pedro II tais privilégios.
É lamentável sabermos que existe tão pouco ou quase nenhum reconhecimento da parte da igreja evangélica brasileira para com o congregacionalismo e sua influência no Brasil. Pois, se hoje somos cerca de 40 milhões de evangélicos no país, deveria ser sempre lembrado nos grandes ou pequenos eventos, que os primeiros destes, foram zelosos congregacionais (depois presbiterianos, batistas, assembleianos, etc).
Mesmo assim, sou congregacional com muito orgulho  (sem ser sectarista) e louvo a Deus por fazer parte de uma denominação genuinamente evangélica. Que mesmo diante de todo secularismo e inovações "espirituais" que tem se infiltrado em muitas outras denominações, continua firme e forte no seu propósito de manter nesta nação um paradigma de eclesiologia comprometido somente com as Sagradas Escrituras. Sim, somos desde 1858 (há 156 anos) uma denominação ainda bíblica, reformada, protestante e de fato, evangélica. Uma igreja pouco notável, talvez, mas uma igreja que nasceu neste solo, comprometida com a proposta de levar o genuíno evangelho as vidas de milhares de brasileiros em suas respectivas gerações e regiões.
Glória a Deus pelo envio do casal missionário congregacional, Dr.Robert Kalley e Sarah Poulton Kalley!!!

Fonte: adaptado do Wikipédia

Pr.Samuel Santos (3ª Igreja Congregacional de João Pessoa – AIECB).

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